quarta-feira, 7 de dezembro de 2016

As Casas em Hogwarts #1




O blog Just Lia publicou, há dois anos, uma série de ilustrações muito bonitas feitas por uma fã de Disney e HP com personagens clássicos utilizando os uniformes das Casas de Hogwarts; por sinal, ela escolheu bem as Casas de cada um. Só me ressenti de a pessoa se lembrar de desenhar A ELSA, de Frozen - filme que foi lançado, tipo, ONTEM - e esquecer a fantástica MULAN e seu parceiro Shang.

O post que estou fazendo hoje é sob demanda de alguns amigos que têm dificuldade em compreender o significado das Casas e com quais se identificam.

Vejo que muita gente, ao ler sobre as Casas - especialmente nos livros - acabam formando uma visão muito parcial de cada uma delas. Basicamente, aderem a uma e desdenham as outras. Tenho uma Casa que é a Casa do meu coração, mas isso nunca me impediu de ver beleza nas outras - e nisso concordo com a professora McGonagall: toda Casa tem uma história honrosa.

E é possível escolher uma Casa e enxergar muita beleza nas outras!

Não quero trazer exatamente uma enciclopédia de cada uma delas - isso vocês podem encontrar na wikipédia - mas uma interpretação mais justa e abrangente de cada uma, algo um pouco além do bem e do mal. Quero mostrar os valores que enxerguei em cada uma e como cada uma tem algo de importante a oferecer ao ser humano. A partir de agora, começo uma série de quatro postagens explicando como enxergo cada Casa, com suas virtudes e suas dificuldades!

Não sei o que a autora diz a respeito e nem pesquisei. Porque eu fiz a minha interpretação, então duvido que seja mais verdadeira que a da criadora, mas, enfim... é mais uma versão de fã. Posso sonhar, não posso?

PS: Não é uma enciclopédia das Casas, que pode facilmente ser acessada na wikipédia, mas uma visão pessoal de cada uma delas. O que cada Casa representa para mim e o que cada uma delas me ensinou. Acho muito importante ter uma leitura reflexiva sobre qualquer história e formular as próprias representações do que está escrito, posto que temos liberdade para isso.


PS2: Todas as Casas têm pessoas incríveis - e também pessoas com falhas de caráter. Encontraremos uma pessoa leal até o fim na Sonserina (Snape) e outra simplesmente CÉLEBRE que deu nome a uma Ordem (Merlin); uma pessoa traiçoeira na Grifinória (Peter Pettigrew); uma pessoa arrogante na Lufa-lufa (Zacarias Smith) ou muito vaidosa (Hepzibah Smith) e até mesmo, provavelmente, pessoas mesquinhas que se encarregam de esconder as coisas da Luna Lovegood na Corvinal por puro deboche. 


PS3: Como adorei a brincadeira de "Personagens da Disney em Hogwarts", dei uma de Chapéu Seletor e encaixei personagens de histórias diversas em cada Casa. Obviamente, é uma brincadeira com dois objetivos: demonstrar, com exemplos, como vejo o potencial de cada morada de Hogwarts e explicitar como todas as Casas - inclusive Sonserina! - podem ter personagens incríveis. Em minha opinião, todas as Casas habitam nossos corações, por isso a seleção que fiz foi com base na principal característica que enxerguei em cada um desses personagens - obviamente não desconsidero a possibilidade de eles se encaixarem em outras Casas, já que eu mesma, a rigor, poderia estar em três. Teremos, assim, o intelectual corajoso que poderia ser tanto Corvinal quanto Grifinória; o cara ambicioso que é também generoso, podendo ser tanto Sonserina quanto Grifinória ou Lufa-lufa... e até o guerreiro vingativo, que também poderia estar em mais de uma Casa... enfim, é uma miscelânea!


Em homenagem ao recente filme protagonizado por um lufano - Newt Scamander - resolvi começar a série pela Casa do Texugo!





Lufa-Lufa/Hufflepuff:

Tendência: Calorosos e Coletivistas.
Valores: Humildade, Dedicação e Temperança.


"Onde seus moradores são justos e leais, pacientes, sinceros, sem medo da dor."

"Para Hufflepuff, os aplicados eram os merecedores de admissão."

"Disse Hufflepuff: 'Ensinarei a todos e os tratarei com igualdade.'

A Boa Hufflepuff recebeu os restantes e lhes ensinou tudo o que conhecia."

Definição capenga: para onde a galera fofinha vai.

O arquétipo: quando me perguntam exatamente o que é ser Lufa-lufa, respondo: é a Casa dos Amigos. Possivelmente onde as turmas são mais unidas, sabe? Onde todos estão sempre juntos. Sabe quando você está num grupo tão fofo, tão unido, tão tranqüilo, leve, bem-humorado, zoeiro, brincalhão, em que todos se ajudam sem se questionar por quê? Por exemplo, na escola e na faculdade, estive em: 

  1. Turmas desunidas: cheias de panelinhas que falavam mal umas das outras;
  2. Turmas unidas: na qual todos se deslocavam pela escola em grandes blocos, já que todas as panelinhas se davam bem.

Nessas turmas unidas, um trio/quarteto/quinteto ocupava uma mesa da cantina e, à medida que mais colegas/panelinhas iam chegando, acrescentávamos mais cadeiras e mesas até metade da sala estar na roda, tamanho era o senso de união da galera; quando uma panelinha encontrava a outra, os grupos aglutinavam-se como ímãs e todos compartilhavam informação e conhecimento, ajudando uns aos outros. Pois bem: esse segundo tipo de turma - ou bloco - representa uma turma lufana! Uma galera que se dá bem, que não fica dividida.


Por isso, se você estiver em uma turma grande, tranqüila e de fácil convivência na escola, na faculdade ou no trabalho, desconfie: possivelmente está cercado de lufanos! Hahaha

Se alguém me perguntasse, eu diria que, em Hogwarts, Lufa-Lufa é a Casa dos Hobbits por causa do conforto, da música, da constância e da hospitalidade e porque fica ao lado das cozinhas; é a Casa onde, basicamente, as pessoas são doces, leais e confiáveis; onde o crédito nunca é individual, mas grupal. É a Casa onde você já sorri só de se aproximar dela e, se precisar de um ombro amigo, certamente vai encontrar. É a casa da terra, ou seja, da constância e do trabalho árduo; isso significa disciplina, temperança, sem aquela busca por momentos intensos e glórias eternas. Se perguntassem a um lufano o que perguntaram a Aquiles - "uma vida longa, pacata e anônima ou uma vida curta cheia de glórias?" - certamente ele responderia: uma vida longa, pacata, em que eu tenha oportunidade de realizar feitos bons, porém anônimos, e uma casa simples, mas confortável e hospitaleira, onde esteja cercado das pessoas que mais amo.

Para o lufano, não existe 1 dia de glória, mas 365 de trabalho e companheirismo. Normalmente, são pessoas que não são individualmente reconhecidas pela inteligência sublime ou por um espírito natural de liderança - e muito menos por uma ambição individualista que as impele - por isso se habituam ao anonimato; abandonados por patriarcas/matriarca de outras Casas por não terem essas marcas devidamente sedimentadas - e acolhidos pela bondosa Helga Hufflepuff - os lufanos são livres justamente porque não respondem a esses rótulos. São livres para valorizarem a amizade, o trabalho e a resiliência. São livres desses rótulos que podem ser glorificadores, mas também aprisionadores.

A Lufa-lufa é apresentada nos livros como a Casa das exceções, dos renegados, dos que foram rejeitados pelas outras. Quero dizer: a princípio, é como se fosse a Casa para onde "o resto" vai; se você não se encaixasse nos pré-requisitos de Gryffindor, Slytherin e Ravenclaw, você seria acolhido por Hufflepuff. Foi por isso que comecei a tag por ela: para mostrar que não, ela não é a casa das exceções/rejeições, mas uma casa que tem uma virtude tão forte e singular quanto a dos demais. Ela não é mais a Casa para onde quem "sobrou" vai, mas a Casa que contém virtudes tão peculiares que somente um olhar atento e insólito é capaz de detectar - aquele mesmo olhar que Gandalf teve para convocar um hobbit chamado Bilbo Bolseiro para uma aventura com anões e dragões, sabem? 

[Mais um motivo para achar que a Casa lufana é também a Casa dos hobbits!]

Os valores que separei - Humildade, Dedicação e Temperança - são valores que pensei com muito carinho porque queria explorar virtudes exclusivas desse arquétipo; mesmo que encontremos pessoas de outras Casas dotadas desses valores, eles seriam específicos desta, entendem?
  • Humildade: é essa vida de anonimato que expliquei. A partir do momento em que o lufano não se enaltece pela inteligência ou pela coragem e nem lança luz ao ego pela ambição, ele é convidado a experimentar essa virtude. Ele não é movido, dia a dia, por um desejo de glória pessoal.
  • Dedicação: "Não ter medo da dor" sempre me pareceu controverso porque é uma qualidade que encontro em todas as Casas. Por isso, pensando nessa expressão da Rowling, imaginei especificamente para a Lufa-lufa a dedicação, ou seja: o conhecimento de que a vida não é composta apenas por momentos de glórias ou de adrenalina, mas por um continuum, isto é, todo um cotidiano de construção e produção, cheio de alegrias e sofrimentos. Para mim, o "não ter medo da dor" do lufano é isso; é não sair caçando aventura, é não se desviar do próprio caminho, é não escapar da realidade por meio dos livros. É um senso de realidade bem terreno e estável, que ergue cidades inteiras pela constância, pela disciplina, pelo esforço de estar ali, dia após dia, e montar cada tijolinho da construção. Um trabalho que exige estabilidade, dedicação e espírito de equipe. Não tem medo da dor aquele que conhece o valor do processo e da jornada.
  • Temperança: a ausência dos "rótulos" de batismo que existem em Hogwarts desde sempre pode desamparar e, ao mesmo tempo, libertar o lufano. Assim, ele nunca parece ser individualmente algo "a mais", um ponto singular de destaque, um floquinho de neve especial; lufanos transitam entre as qualidades individualizantes para manter a estabilidade terrena de quem vive um cotidiano de companheirismo e produtividade.
Tendência calorosa: são muito aliados aos grifinórios justamente por seu senso de pertencimento, de humanidade, de grupo. São pessoas muito alegres, afetuosas e sociáveis, já que encontram seu sentido no coletivo e na alteridade. Observaremos, no último livro especialmente, que os melhores aliados dos grifinórios em momentos extremos são justamente os lufanos! Leais, eles não abandonam seu dever e nem seus amigos; quando a coisa é para valer, são capazes de abrir mão de todo e qualquer ressentimento e ir à luta! São moldados pelos 364 dias de estabilidade que um ano pode oferecer, mas não fogem à luta no dia insólito de batalha e aventura!

Tendência coletivista: já que não possuem rótulos individuais, prezam o coletivo. São a Casa do coletivo, dos amigos.

Não estou dizendo que:
1) Os grupos de amigos das outras Casas não possam ser legais; eu adoraria ser da turma dos Gêmeos Weasley, por exemplo, junto com Lino Jordan, Angelina Johnson e Alicia Spinnet, mas a Casa que representa esse jeito coletivo e unido de ser, ideologicamente, é a Lufa-Lufa. 
2) Lufanos não possam ser célebres ou individualmente singulares - Newt Scamander que o diga! Apenas não é uma tendência lufana; assim como podemos ter pessoas célebres ou de espirito estóico lufanas, teremos anônimos grifinórios e sonserinos. Portanto, estou falando, neste post, de como enxergo a Casa como ideologia.

Enfim, quando penso num lufano legítimo, penso nas pessoas doces e anônimas que estão por aí, praticando boas ações; pessoas que até mesmo escolhem como profissão cuidar de outras, que se apiedam de quem sofre, de quem adoece - e que estão sempre dispostas a acolher o outro e a dar voz à dor alheia. Penso em pessoas que se comovem com o desamparo e que buscam acolher e oferecer conforto por meio da atenção, da estabilidade, do afeto - e até mesmo por meio do alimento! Penso em pessoas que têm como força-motriz do espírito o mais puro desejo de pertencer a um grupo, de se unir à humanidade, de trabalhar junto com ela e de praticar o companheirismo; penso em pessoas que acordam todos os dias nutridas por esse desejo de pertencimento antes de qualquer outro.

Alegoria: Alguém já leu O Príncipe e o Mendigo, do Mark Twain? É uma história à qual toda criança deveria ser apresentada de tão linda! Basicamente, é sobre dois meninos - um príncipe nobre de título e de caráter, mas que pouco sabe da realidade externa ao palácio, e um menino pobre, sonhador e de bom coração, pertencente a uma família ignorante e até violenta. Um dia, por acaso, esses dois meninos se encontram e ficam amigos; como são fisicamente parecidos, acabam por vestir (de brincadeira) as roupas um do outro e, sem querer, trocam de lugar - o príncipe vira mendigo e vice-versa. Assim, o príncipe passa a vivenciar a realidade miserável e atroz de seu povo em meio a muitas aventuras, enquanto o mendigo, em trajes reais, ganha poder de decisão e passa a morar em um palácio tão luxuoso quanto aquele com que sempre sonhara.

Pois bem: o lufano é o rei que não é nobre nem de título e nem de trejeitos. Em uma analogia à maravilhosa história O Príncipe e o Mendigo, o grifinório é o príncipe legítimo, cheio de pompa, elegância, caráter real e senso de justiça, que sabe reinar com generosidade, mas tudo com um toque de majestade; o lufano é o mendigo que, ao ocupar o lugar do rei, saberá ser tão justo quanto ele ou até mais, mas sem o toque de nobreza. Ele é a personificação do mendigo que, em trajes reais, não se reconhece como rei, mas que se utiliza do poder Real para ser solidário com a população; tolhido desde sempre e sonhando com um mundo belo e justo, utiliza-se da primeira oportunidade para fazer valer seu senso de justiça e de compaixão. Ele não se sente um rei e não possui o orgulho e a elegância de um - mas se utiliza desse privilégio para agir com temperança e empatia. Após governar com uma nobreza que vem do coração, seu último gesto como rei é restituir a coroa ao seu verdadeiro dono, destituindo-se, assim, da ambição (sonserina) que o poder adquirido poderia lhe suscitar.

De fato, é o mendigo que foi vestido como príncipe e soube reinar - não com nobreza, mas com um coração puro. 

Para Lufa-Lufa, não há orgulho, talento ou ambição, tudo é muito simples; a humanidade é que complica demais.

Ponto fraco: uma das desvantagens lufanas é claramente a forma como foi abordada desde o primeiro livro, em que o Hagrid diz: "dizem que na Lufa-lufa só tem panacas, mas é melhor Lufa-lufa do que Sonserina." Desde o início, é a Casa "menos pior" - nunca a melhor. É a dos alunos que sobraram no tempo dos fundadores e é apenas "melhorzinha que a Sonserina.

E isso parece despertar um ressentimento. Eu me lembro de que, no início dos anos 2000, a Casa-tendência era Sonserina, ainda lá nos tempos de orkut; muita gente queria ser rebelde e tinha muito orgulho em adotar a Casa "oposta" à Grifinória. Hoje, em tempos de ascensão de consciência e justiça social na internet, a Lufa-lufa virou o símbolo potteriano dos valores vigentes: a casa boa de coração, trabalhadora, humilde, correta, pouco reconhecida, mas que faz muito por todos... e, na época atual, mais do que nunca, os lufanos erguem suas varinhas, orgulhosos de sua Casa, encabeçados pelo Newt Scamander, aquele que protege as tão incompreendidas e injustiçadas Criaturas Mágicas!

[Se já foi a época Sonserina e agora é a era Lufa-lufa, tô apostando que, daqui a pouco, será a vez da Corvinal!]

De toda forma, na categoria "pontos fracos", tentarei falar sobre as desvantagens de cada Casa. No caso da Lufa-lufa, ela sempre ocupa as últimas classificações no Campeonato das Casas e, quando finalmente tem um herói, alguém que chame a atenção para ela - Cedrico Diggory no Tribruxo - o Harry vai e também vira campeão sem querer!

["Eu não caço encrencas, elas é quem vêm ao meu encontro!" - Harry Potter.]

Percebo que, várias vezes, os lufanos meio que deixaram a desejar em relação a seus valores. No segundo livro, acusam o Harry de açular a cobra do Clube do Duelo contra Justino Finch-Fletchley, e mais: acreditam que Harry é o herdeiro de Sonserina e que estaria atacando os nascidos trouxas, mesmo sendo ele amigo íntimo de uma bruxa nascida trouxa. Somente quando Hermione é petrificada, alguns deles deixam de lançar essa acusações ou de xingar Harry nos corredores.

E, no quarto livro, revoltados com o fato de Harry ter de dividir o posto de campeão com o Diggory, adotam, de forma muito correta e madura *ironia*, o distintivo criado por Malfoy ("Potter Fede"). 

Temos aqui mais ressentimento, medo da dor e orgulho ferido do que senso de justiça, temperança e humildade. Essas passagens meio que me lembram aquelas pessoas extremamente boas e solidárias que acabam guardando rancor quando não são reconhecidas pelos seus feitos. E, se nos lembrarmos de que estamos falando de seres humanos, não é difícil pensar que os lufanos não são a expressão da perfeição; talvez não tenham a ambição, o orgulho ou a sede de aventuras como seu mote/norte, mas, sem dúvida, são tentados pela vaidade, entrando em conflito e, nesse ínterim, mostrando-se, por vezes, ressentidos e comportando-se de forma infantil e mesquinha. E, se isso está no lufano da fantasia, certamente vai aparecer no lufano da realidade!

O lufano, habituado a lidar com perda "sem medo da dor", acaba encontrando duas saídas: a resiliência, que o destaca, e o ressentimento, que o infantiliza. E vemos, ao longo dos livros, eles adotarem essas duas saídas - a do resiliente e a do passivo-agressivo. Novamente: a pessoa boazinha, mas que se dói quando não é reconhecida o suficiente.

É bom lembrar que existem pessoas mesquinhas e egoístas também na Lufa-lufa - como o Zacarias Smith; humildes e generosas, como Frei Gorducho; justas e heróicas, como Cedrico Diggory.

Aliás, Cedrico Diggory é um excelente representante da Casa por nunca ter se deixado levar pelo ressentimento em relação a perdas; mesmo tendo que (injustamente) dividir o posto de campeão com Harry, não se deixou abalar. Foi resiliente até o fim. O que ele me transmite é essa pessoa que não remói as situações - que simplesmente passa por elas, levando consigo o que elas trazem de vantajoso; no caso, Diggory não concentrou suas energias em remoer o fato de que ele não era o único campeão de Hogwarts, mas na parte de que ele era, por merecimento, um dos campeões, e que usaria ao máximo seu potencial para vencer. Ou seja: mesmo que a vida não tenha acontecido do modo mais justo, ele faz o que é correto - o que tem pra hoje, o que lhe cabe - e bola para frente! E é isso que o lufano, em sua virtude, tem a nos ensinar. Para mim, é nisso que reside o "não ter medo da dor".

Momento Lufa-lufa: 

Dois momentos que me marcaram foi quando o Cedrico, no quarto livro, deu as costas à Taça Tribruxo por considerar o Harry merecedor... e ele só morreu porque o Harry sugeriu que ambos a segurassem, pois haviam empatado, de modo que ele foi transportado para a cena de ressurreição de Voldemort.

E a minha cena lufana preferida, sem dúvida, ocorre quando uma quantidade massiva de lufanos, durante a evacuação da escola na Batalha de Hogwarts, fica pra lutar. Mas citarei outras passagens que considero extremamente lufanas e que, por vezes, passam despercebidas...


"Uns vinte fantasmas passaram pela parede dos fundos. Brancos-pérola e ligeiramente transparentes, eles deslizaram pela sala conversando entre si, mal vendo os alunos do primeiro ano. Pareciam estar discutindo. O que lembrava um fradinho gorducho ia dizendo: - Perdoar e esquecer, eu diria, vamos dar a ele uma segunda chance...- Meu caro frei, já não demos a Pirraça todas as chances que merecia? Ele mancha nossa reputação e, você sabe, ele nem ao menos é um fantasma. Nossa, o que é que essa garotada está fazendo aqui? - um fantasma, que usava uma gola de rufos engomados e meiões, de repente reparou nos alunos do primeiro ano.Ninguém respondeu.- Espero ver vocês na Lufa-lufa! - falou o frei - A minha casa antiga, sabe?" (Pedra Filosofal, p. 103)



"Diggory apanhou o pomo - informou Jorge - Logo depois de você cair. Ele não percebeu o que tinha acontecido. Quando olhou para trás e viu você no chão, tentou paralisar o jogo. Queria um novo jogo. Mas tiveram uma vitória justa... até Olívio admite isso." (O Prisioneiro de Azkaban, p. 149)



"Mas, antes que pudesse dedicar muito tempo ao assunto, Ernesto Macmillan se aproximara dele.- Eu quero que você saiba, Potter - disse em alto e bom som -, que não são apenas os excêntricos que apóiam você. Eu, pessoalmente, acredito em você cem por cento. Minha família sempre se manteve firme ao lado de Dumbledore, e eu também." (Ordem da Fênix, p.219)



"- Naturalmente, você sabe que nada manterá Você-Sabe-Quem fora por tempo indefinido, não? - chiou o professor Flitwick.- Mas podemos retardá-lo. - disse a professora Sprout.- Obrigada, Pomona - disse McGonagall, e as duas bruxas trocaram olhares de sombria compreensão - Sugiro que estabeleçamos uma proteção básica em torno da escola, depois reunamos os alunos e nos encontremos no Salão Principal. A maioria precisa ser evacuada, embora, se algum for maior de idade e quiser ficar e lutar, deveríamos lhe dar essa oportunidade.- De acordo. - e a professora Sprout dirigiu-se, apressada, para a porta - Encontro vocês no Salão Principal dentro de vinte minutos, com os alunos da minha Casa.E enquanto a bruxa corria e desaparecia de vista, eles a ouviam murmurar:- Tentácula. Visgo-do-diabo. E vagens de Arapucosos... sim, gostaria de ver os Comensais da Morte enfrentando esses." (As Relíquias da Morte, p. 466-467.)


Exemplos de lufanos de outras histórias:

Disney:


  • Betty, Slinky (Toy Story); 
  • Anna de Arendelle, Kristoff (Frozen);
  • Rapunzel (Enrolados/Tangled);
  • Cinderella (Cinderella);
  • Little John (Robin Hood);
  • Quasímodo (O Corcunda de Notre Dame).

Once Upon A Time: Branca de Neve, Príncipe James.
Hunger Games: Peeta Mellark.
Os Instrumentos Mortais: Simon Lewis.
Stardust: Dunstan Thorn.
O Guia do Mochileiro das Galáxias: Arthur Dent.
Orgulho & Preconceito: Jane Bennet e Mr. Bingley.
Twilight: Esme Cullen, Isabella Swan.
Downton Abbey: Mr. Carson, John Bates, Anna Smith, Daisy Mason.
Doctor Who: Rory Williams, Donna Noble.
Sherlock: John Watson e Inspetor Lestrade.
Supernatural: Castiel.
Bones: Lance Sweets, Angela Montenegro, Wendell Bray.
Fringe: Astrid Fansworth.
House: Allison Cameron, James Wilson.
Game of Thrones: Davos Seaworth, Jon Snow.
Gilmore Girls: Sookie St. James.
Star Wars: Chewbacca e C-3PO.
Os Goonies: Lawrence 'Chunk' Cohen.
Anastasia: Vladimir.
Caverna do Dragão: Sheila.
Adventure Time: Jake. 
X-men: Colossus, Nightcrawler, Jubileu, Moira McTaggert.
Digimon: T.K. (Esperança), Kari (Luz).


Lufa-lufa nos ensina que nenhum ser humano é uma ilha e que todos estamos conectados - que precisamos uns dos outros. Por mais individuais que sejamos e individualizados que estejamos, só existimos por meio da alteridade - nada se constrói efetivamente sozinho.

2 comentários:

  1. (Lendo e comentando)
    "Definição capenga: para onde os fofinhos vão". Agradeço a parte que me toca huaahuahuahuahua
    Adorei a escolha da primeira casa! Logo a Lufa-lufa a última a ser escolhida sempre. E, aliás, as pessoas que são sorteadas para ela são geralmente as últimas que são escolhidas também. É a casa para os underdogs, aquelas pessoas que não se encaixam, que são diferentes. Eu me identifiquei com isso e com a importância que a casa dá para a lealdade. Não se vê muito isso..
    Foi por isso também que fiquei tão feliz por ter sido oficialmente sorteada para a Lufa-lufa no Pottemore. Eu sempre soube que era da Lufa-lufa <3
    E sim, o Peeta é 100% lufano! huahuahuhaua
    JANE E MR. BINGLEY!!! Perfeito!!! Aposto que Darcy e Lizzy serão da Corvinal! :D
    Castiel s2
    Hum... Jon Snow acho que seria da Grifinória, heim...
    Lufa-lufa tem seus defeitos, como qualquer casa, mas ainda assim, é um amorzinho né?

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    1. Adorei a definição "underdogs", gostaria de tê-la usado! Uma perspectiva muito poética, diga-se de passagem. Fico feliz que tenha gostado e que tenha se sentido homenageada! E a escolha de falar primeiro dela realmente não foi por acaso, já era hora de começar por ela, né?
      Darcy e Lizzy serão uma surpresa - talvez uma meia-surpresa!
      Tive a impressão de que você iria gostar de ver o Castiel nessa, apenas... intuição.
      Agora, em relação ao Jon Snow, um ponto interessante! Quando estava sorteando a galerë, eu sabia que muitos personagens seriam ambivalentes, trivalentes ou mesmo tetravalentes devido à complexidade que apresentam, e o Jon foi um desses. Precisei até discutir um pouco com o Eduardo, que conhece mais de ASOIAF do que de Harry Potter, para ter uma noção ainda mais clara da personagem. E, sim, fiquei em dúvida entre Lufa-lufa e Grifinória para ele, e acho que ele daria um ótimo grifinório, como você colocou.

      Mas o que me fez colocá-lo como exemplo de lufano dá pra resumir no que você mesma colocou: "underdog". Se tivesse de escolher uma figura underdog no mundo pop de ultimamente, seria ele.

      Ele é um aventureiro nato e honrado, além de extremamente corajoso, o tipo que dá a cara a tapa e não tá nem aê - ele deu uma de Harry em "A Batalha dos Bastardos", né? Mas, o que me fez colocar ele na Lufa-lufa foi o que mais chama a atenção nele, a força que o motiva a ser quem é: esse cara underdog, deslocado, que não herdou, a princípio, nada, e que geralmente age mais em nome das amizades e da lealdade do que pela coragem propriamente. A verdade é que, quanto mais estou dissertando, mais tendo a concordar com o posicionamento grifinório (hahaha), mas estou justificando porque, até então, havia pensado em Lufa-lufa. Porque, na natureza íntima dele, ele me parece deslocado demais para se sentir nobre, corajoso, aventureiro e orgulhoso, o tipo que valoriza um círculo seleto de amizades, que vai ficando foda sem fazer alarde, que não se sente herdeiro de nada... apenas um "bastardo". Creio que ele é um personagem ambivalente em termos de Casas.

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