domingo, 18 de agosto de 2013

Talvez - Pablo Neruda



Adoro poesia, embora não tenha paciência para ler um livro inteiro de poeminhas de uma só tacada; eu sou meio devagar, gosto de sentir as palavras, o ritmo...

Fui dessas meninas tímidas durante o ginásio que faziam toneladas de poesias românticas. Adorava falar de mundos ocultos, do que é sentir saudade (principalmente saudade de tempos desconhecidos) e dedicava um monte de poemas de amor imorredouro às quedinhas do colégio.

Claro que essas quedinhas nem faziam idéia disso. Ainda bem.

Meus poemas eram gigantescos - um soneto italiano era muito pouco para eu transmitir o que queria.

Gastava duas páginas inteiras; seis estrofes de quatro versos quando eu tentava diminuir o tamanho delas.

Quando comecei a aprender sobre Camões e Os Lusíadas, comecei a escrever uma epopéia seguindo a métrica camoniana; fiz as três estrofes de introdução e as duas de dedicatória antes de desistir. Aliás, só desisti porque perdi o caderno, ou eu estaria até hoje fazendo.

O meu tema épico era fantasia e mundo das trevas na atualidade, um cenário sobre o qual atualmente escrevo - só que em prosa; eu até havia desenhado nas páginas do poema cenas da história, como uma bruxa sendo queimada na fogueira...

O prazer que dá ler o que você já fez, ver que a contagem de sílabas está correta, ver a cadência que conseguiu, as rimas nobres que formou... é maravilhosa essa sensação. Eu amava, gostaria de não ter perdido o tal caderninho...

O meu poeta preferido é o chileno Pablo Neruda. Eu ouvi falar dele pela primeira vez na minha prova de História - ele era a resposta de uma questão que errei, então seu nome ficou na minha cabeça por alguns poucos anos, antes de eu encontrar suas obras na internet.

Tem uma coisa nos poemas dele que eu simplesmente amo. Não vejo rima alguma, mas o ritmo, as comparações, as expressões são todas muito lindas; o estilo é romântico sem ser meloso demais - é como se falasse de um amor livre, simples, espontâneo. Eu sempre imagino lugares abertos e amplos como cenários de seus poemas.

O meu preferido está um tanto quanto disseminado na internet, o que pode parecer batido, mas não sou hipster o suficiente para menosprezar o que todos conhecem.

Aliás, acho mesmo que todos deveriam conhecer!


Talvez

Talvez não ser é ser sem que tu sejas,
Sem que vás cortando o meio-dia
Com uma flor azul, sem que caminhes
Mais tarde pela névoa e pelos ladrilhos

Sem essa luz que levas na mão
Que talvez outros não verão dourada
Que talvez ninguém soube que crescia
Como a origem rubra da rosa.

Sem que sejas, enfim, sem que viesses,
Brusca, incitante, conhecer minha vida
Aragem de roseira, trigo do vento

E desde então sou porque tu és
E desde então és, sou e somos
E por amor serei, serás, seremos!





Observação 1: Se você quiser conhecer um pouco de Os Lusíadas sem precisar ler essa epopéia, é só ler "Por mares há muito navegados", de Álvaro Cardoso Gomes; é uma aventura quer conta de forma didática a história desse clássico poema lusitano.

Observação 2: Procurando na internet, achei uma curiosa diferença entre "poesia" e "poema":

"No sentido etimológico, poesia vem do grego poiesis, que pode ser traduzido como a atividade de produção artística ou a de criar ou fazer. Com base nisso, a poesia pode não estar só no poema, mas também em paisagens e objetos. Trata-se, enfim, de uma definição mais ampla, que abarca outras formas de expressão, além da escrita.
Já o poema também é uma obra de poesia, mas que usa palavras como matéria-prima. Na prática, porém, convencionou-se dizer que tanto o poema quanto a poesia são textos feitos em versos, que são as linhas que constituem uma obra desse gênero.
Por fim, o soneto é um poema de forma fixa. Tem quatro estrofes, sendo que as duas primeiras se constituem de quatro versos, cada uma, os quartetos, e as duas últimas de três versos, cada uma, os tercetos. Todos eles têm dez sílabas poéticas, classificando-se como decassílabos. Os sonetos costumam ter uma estrutura semelhante. O texto começa com uma introdução, que apresenta o tema, seguida de um desenvolvimento das ideias e termina com uma conclusão, que aparece no último terceto. Essa é, em geral, a estrofe decodificadora de seu significado."

Lembrando que soneto não é apenas decassílabo, de modo que essa definição me pareceu bastante incompleta. Mas ajudou bastante a elucidar a diferença entre "poesia" e "poema"! Para mais informações, só pesquisar mais! :)

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