Linda Rodin, maravilhosamente fotografada pelo blog Advanced Style! |
Algumas pessoas acharão mórbido, mas um dos meus devaneios consiste em imaginar a passagem de tempo no rosto e nas mãos das pessoas. De vez em quando, pego-me olhando para o rosto de alguém e imaginando essa face mais jovem ou mais velha. Esse hábito de observar rostos humanos surgiu da prática de reproduzi-los de forma realista no papel.
É que o desenho, principalmente em versão realista, consiste em você decompor a imagem a ser copiada; um rosto, quando desenhado, não é percebido pelo seu todo, mas visualmente decomposto nas centenas de tonalidades que o constitui, em um complexo jogo de luz e sombras - e é a atenção a esses matizes que torna, afinal, o desenho reconhecível, fiel ao real. De tanto prestar atenção nesses detalhes, peguei essa mania de observar os rostos das pessoas.
Filhinha de uma cultura hollywoodiana, sempre estive acostumada à representação da passagem do tempo pela forma "cinematográfica", ou seja: uma mesma personagem, em idades distintas, sendo interpretada por diferentes atores - por isso, durante a infãncia, eu tinha a impressão de que, quando você envelhecia, você literalmente se transformava em alguém completamente diferente. Quando cresci, finalmente percebi que, na realidade, o seu "eu idoso" é mais fisicamente (e emocionalmente haha) parecido com o seu "eu adulto" e infantil do que o cinema é capaz de transmitir; provavelmente, uma das poucas exceções que mostra o envelhecimento realista é Boyhood, que ainda pretendo ver. Aliás, sobre Boyhood: sempre pensei em rodar um filme EXATAMENTE ASSIM, e tenho certeza de que muitos de vocês já tiveram a mesma idéia - finalmente alguém foi lá e fez! Parabéns, Richard Linklater!
Bom, vendo retratos de parentes e observando pessoas, percebi como é o envelhecimento real. E fiquei com essa mania de olhar para uma pessoa e imaginá-la quando criança e quando velha. Ou, quando vejo um bebê de um ano, olho para ele (e para os pais) e imediatamente imagino como ele será - em aparência e modos - aos dez anos! Ou então como será aos catorze, a cabeça cheia de pensamentos adolescentes e os trejeitos totalmente diferentes daquela criatura com cara de pão que vivia no colo das pessoas.
A partir de como vivo cotidianamente, tento imaginar onde aparecerão meus principais vincos pelas expressões faciais que mais utilizo. Sou uma pessoa muito ansiosa e analítica, então já imagino as marcas de expressão na testa de tanto franzi-la ou de arregalar os olhos. Já os vincos ao redor dos lábios, que algumas pessoas possuem, não serão tão marcantes em mim. Imagino a consistência dos fios do cabelo e até mesmo (cruzes!) se desenvolverei alguma doença física!
Se eu continuar com meu padrão de vida, meus hábitos e meus pensamentos - e atitudes - que tipo de doença poderei desenvolver? Pensar nisso é também uma forma de se conhecer e de evitar o surgimento delas.