quinta-feira, 20 de agosto de 2015

Sessão nostalgia com Digimon



2015 começou com promessas carregadas de expectativas. Desde as juras coletivas de final de ano de sempre que envolvem maior disciplina e realização de desejos à possível vinda de Marty McFly, o ano prometeu se destacar para nós, seres desejantes. Só que eu não sabia que a coisa seria tão profunda assim.

O ano começou com um Mad Max que, infelizmente, não vi no cinema. Eu só vi o 1 e não tive ainda paciência para ver o 2, embora lendas urbanas digam que vale a pena - porque existem duas verdades no cinema blockbuster:

- Filmes muito ruins que são procedidos por uma segunda versão incrível e inesperadamente ótima, a ponto de esta segunda versão ser considerada a única existente, como foi o caso de Mad Max;
- Trilogias cujo segundo filme é o melhor, e o terceiro, o pior de todos e que, para todos os fins, não existe.

Mas tudo bem não ter visto o 2 ou o Mad Max da Furiosa. Nunca fui fã de cenários pós-apocalípticos isentos de zumbis.

Segue sessão nostalgia em pleno 2015 como segue uma dama em quadrilha de festa junina.

Então veio e meu coração até pára quando penso JURASSIC WORLD. Gente. Gente. Dinossauros.

Dinossauros perseguindo pessoas.

Dinossauros criados por engenharia genética numa época em que se criticava o projeto Genoma oh, Michael Crichton, excelente tentativa.

Dinossauros perseguindo paleontólogos.

E me ressuscitam essa história fodástica com cheiro de sangue e carne dilacerada de infância.

Simultaneamente, anunciam o renascimento de Star Wars em uma nova trilogia. Na realidade, já estava anunciado há tempos, mas o teaser apareceu agora e o lançamento será em 2015.

Uma galera tem achado uma boa viver às custas da nostalgia alheia, mas não importa porque todos estamos felizes. O problema é que isso nos obriga a retornar a infância num momento da vida em que precisamos amadurecer e será que vai ter no netflix?.

Não bastassem esses grandes sucessos do cinema renascendo como zumbis em cenários apocalípticos, não sei por que cargas d'água a Toei Animation, em comemoração aos 15 anos do sucesso Digimon, resolveu produzir uma OVA com os personagens da primeira e única realmente boa versão. Na realidade, eu vi a primeira, a segunda e a quarta - todo o mundo torceu o nariz para o Frontier, mas como foram capazes de suportar as dublagens horríveis e os personagens chatos do Tamers? E o Savers, então? Nunca vi na vida.

O que importa é que é unânime o fato de a primeira temporada ter sido a melhor e é nela que inteligentemente essa galerinha desse estúdio no meio do Pacífico vai focar com altas confusões e uma turminha do barulho. E agora a turma do Tai está no colegial porque, incrivelmente, enquanto para nós passaram-se quinze anos, para eles passaram-se apenas seis; e agora veremos todos crescidinhos salvando o mundo novamente. Espero honestamente que respeitem tudo o que colocaram em Digimon 2, principalmente o final - porque nós chegamos a ver sim o pessoal no colegial! Só que, finalmente, teremos um enfoque neles - e ainda bem, porque eles são muitos mais legais que uma equipe que tem o Davis e o T.K. como líderes.

Sejamos mais claros aqui: espero que não estraguem o lindo romance entre Sora e Matt.

Eu não sei qual é a pior especulação para casais registrada na História, se Harry e Hermione ou Sora e Tai.

As pessoas têm uma coisa para achar que a mocinha mais importante da história tem que necessariamente se envolver com o líder da turma, o que, para mim, não faz o menor sentido. Não faria sentido Magri e Miguel juntos em Os Karas; nem Harry e Hermione em Harry Potter e muito menos Sora e Tai em Digimon.

É claro que a Sora e o Matt têm tudo a ver.

Acho que o pessoal teve dificuldade em entender que, sim, existia uma relação de compreensão e amizade entre Sora e Tai, contudo quem estava lá para entender o lado sombrio da Sora, suas motivações, sua tristeza e seu desamparo - o lado ruim do brasão dela (que era o brasão do Amor - cara, como adorava esses brasões) foi o Matt. Porque o Matt, ao contrário do queridinho e positive vibrations Tai, é revoltado e melancólico por natureza, preferindo se isolar por resistência e medo do mundo, e acaba enfrentando esse medo (que aparece em forma de rebeldia) por meio da mais sincera e desinteressada Amizade (o brasão dele); só ele tinha esse lado sombrio explícito o suficiente para acolher Sora não apenas nas qualidades dela, mas também em suas dificuldades. E o Tai, por mais corajoso e líder que fosse, jamais compreenderia esse lado sombrio das emoções humanas - como não compreendeu naquele episódio da caverna, quando Sora foi atormentada pelo fantasma da culpa paralisante e da melancolia. Enquanto para Tai era dificílimo entender por que Sora se deixara abater daquela forma, Matt, já conhecedor daquela sombra, entendeu do que se tratava; Tai possui uma plenitude e uma independência incompatíveis com a sensibilidade de Sora, ao contrário do Matt - porque os dois, interagindo pelo amor e pela amizade, não são tão plenos e independentes e acabam por necessitar um do outro e complementar um ao outro naquilo que lhes falta.

Se vocês olharem com carinho a história do Harry e do Miguel, temos os mesmos arquétipos; Harry, apesar de ter sido o mais rejeitado e maltratado do trio ao longo de sua história pessoal - mais até do que o histérico Rony -, ele é o mais forte e independente e só poderia se relacionar com uma garota tão forte, durona e corajosa como ele. Harry não se deixa levar pela carência - embora não lhe faltassem motivos para senti-la -, sendo o mais auto-suficiente dos três - auto-suficiente para precisar apenas da amizade deles. E Miguel também, como Pedro Bandeira coloca perfeitamente no desfecho de "A Droga do Amor".

[Update: isso também acontece em X-men 2; para quem nunca conseguiu entender por que diabos a Jean Grey ficou com o mal-interpretado Ciclope apesar da existência do Wolverine (vulgo tio Wolvie), taí a resposta.]

Então, por favor, OVA, não estrague isso. Se bem que, pela foto, Sora e Matt continuam juntos. <3

Enquanto isso, aguardemos ansiosamente e separemos um horário em nossa vida de adultos para conferir essa sessão nostalgia!

Acho que deu para perceber que eu era fã do Matt e da Sora, não é? Nunca fui muito fã do Tai porque achava o Matt mais complexo, meio que me identificava com os conflitos dele e com sua dificuldade de interagir com o grupo - e de aceitar a liderança do Tai. Ao mesmo tempo, achava a Sora um membro muito importante porque unia a equipe e sabia escutar todo o mundo sem se omitir.

Além disso, adorava o Digimon do Matt, e fiquei eufórica naquele episódio em que finalmente conhecemos o MetalGarurumon!

E fiquemos com essa música que está sempre na playlist de adultos pelo mundo afora, mas que vai ter um significado diferente em 2015: Brave Heart! Do Miyazaki Ayumi.

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