domingo, 11 de agosto de 2013

O encantador universo de Hayao Miyazaki!



Hayao Miyazaki é um roteirista japonês de renome - uma espécie de Walt Disney do Japão. Seus filmes possuem traços similares na arte e são caracterizados por personagens não-convencionais em mundo com muita fantasia, ecologia, tecnologia e profundidade!

O primeiro que vi foi seu mais recente sucesso, "Gake no ue no Ponyo" (Ponyo, Uma Amizade que veio do Fundo do Mar); parecia um sonho dada a aleatoriedade dos acontecimentos. É um pouco difícil de entender seus filmes porque existe um toque forte da cultura japonesa que não chega com facilidade até nós, almas ocidentais filhinhas dos EUA, por isso é o tipo de história que você mais interpreta do que entende de fato.


Principalmente se falamos de Ponyo.

E é emocionante. A história se passa em um vilarejo na beira do mar; um garotinho filho de uma mãe responsável e independente que cuida de um lar de idosos e de um marinheiro ausente encontra uma criaturinha que chama de Ponyo e que se torna seu amigo, e toda uma história se desenrola a partir daí. É muito fofo!!!


A amizade entre eles cresce naturalmente, e é impossível não ter vontade de apertá-los!






É uma abordagem exótica do significado emocional/cultural de fenômenos como tsunami e maremoto.
O final é surpreendente!

O outro filme que vi foi "A Viagem de Chihiro" (Sen to Chihiro no kamikakushi), e esse foi meu preferido, talvez por ser uma espécie de "Alice no País das Maravilhas" em versão japonesa.

Uma clássica diferença entre Chihiro e Alice, contudo, é que, enquanto o mundo de Alice é completamente onírico, de modo que o objetivo dela é difuso como nossos objetivos normalmente são em sonhos - perseguir um coelhinho branco, por exemplo, é uma meta bastante difusa -, o de Chihiro é muito claro, indicando um começo, meio e fim para a história. Só que as duas meninas têm em comum a faixa etária, a curiosidade e aquela inocência que relacionamos a espíritos gentis.

Chihiro está prestes a se mudar para uma cidade do interior com os pais e, em todas as sinopses que li, inclusive a que vi pela primeira vez onze anos atrás, é dito que ela se mostrava chata e mimada, mas eu discordo: ela não era uma chata mimada, os pais dela é que simplesmente não a escutavam! Todas as reações dela eram completamente ignoradas por eles, e ela simplesmente estava chateada por se mudar de cidade.

Não é que ganhou um doce ou não recebeu permissão para brincar no parquinho; ela não se adaptara à idéia de ir para um novo lar.

Enfim, o pai erra o caminho durante a viagem e acabam parando diante de um túnel; por curiosidade, os pais saem do carro para explorar, só que a menina não gosta da história, embora os siga de perto.

Do outro lado do túnel, encontram um lago imenso e lindo com uma ponte e, além dessa ponte, do outro lado desse lago, uma cidade vazia com bastante comida fresca feita de carne suculenta. Os pais resolvem comer mesmo sem ninguém por perto, com o argumento de poderiam pagar pela comida, mas Chihiro se recusa a imitá-los e sai de perto para explorar o local; ela recebe, então, o aviso de um garoto de que seria melhor ir embora o mais depressa possível dali e, quando retorna para avisar os pais, vê que eles haviam se transformado em porcos!

Então ela dá início a uma jornada para tentar reavê-los na forma humana e finalmente sair daquele lugar e, para isso, precisa entrar em um mundo com espíritos, fantasmas, bruxas e deuses! E assim ela começa um trabalho de superação.

Uma das minhas sacadas preferidas (foram tantas!) do filme foi justamente a transformação dos pais em porcos. Eles estavam comendo bastante carne fresca e, aos poucos, foram se transformando, sem perceber! As interpretações possíveis acerca desse fato são tantas...

Eu fui muito pelo lado do vegetarianismo - essa idéia de comer obsessivamente outro animal até você regredir a um - mas a idéia que me pareceu mais condizente com a história e não menos genial foi a da prepotência (que parece dominar a nossa sociedade) em que pensamos poder compensar tudo materialmente. Os pais não pararam para pensar que talvez aquela comida não estivesse à venda ou não fosse compensada por dinheiro; não pararam para raciocinar que, alô, não se compra tudo e talvez o dono de toda aquela carne não desejasse que ela fosse comida por eles. Ter o dinheiro para pagar não te dá o direito de obter a coisa que não é sua sem permissão, sem uma negociação.

Foi muito interessante.

Existem outras tantas sacadas, e chamo a atenção para o paralelo entre mocinhos e vilões; Miyazaki transcende a linearidade dos personagens, então o conceito de vilão não é de uma criatura fixa na maldade, e isso é muito bacana.
Até a Chihiro soa meio irritante às vezes com seus gritinhos repetitivos, mas você acaba gostando dela, assim como gosta de muita gente na história.
Os episódios vividos por Chihiro nessa viagem são um convite à visão de mundo japonesa - são culturalmente muito ricos, e bem mais inteligíveis que Ponyo - as interpretações são mais claras. A superação espiritual pela qual a garota passa para reaver os pais torna esse filme leve e ao mesmo tempo dramático, e a aleatoriedade do mundo que ela descobre acrescenta um ar de fantasia, como se ela apenas estivesse dormindo. E ela está? Bem, vejam vocês mesmos!

O cenário é particularmente rico, na minha opinião; a arte não chega a conter o requinte que encontramos, por exemplo, em Cowboy Bebop porque não perde o ar de desenho animado, mas a beleza dela é ímpar.
Tanto que separei algumas imagens:









Eu amei esse filme, e pretendo ver especificamente três do mesmo roteirista:

"Meu amigo Totoro", "Serviço de entregas da Kiki" e "O Sussurro do Coração"; o primeiro é sobre duas irmãs que encontram um espírito da floresta - os japoneses possuem uma visão de espíritos e demônios muito peculiar -, e os outros dois tratam da independência feminina. A Kiki é uma aprendiz de bruxinha, e a menininha do terceiro filme é uma menina que gosta muito de ler e, quando o namoradinho viaja para o exterior para estudar música, ela estipula para si mesma o objetivo de escrever um livro.

Então, recomendação de domingo: HAYAO MIYAZAKI!

Meu amigo Totoro! Acho que já dá para saber quem é o Totoro...

Kiki, uma bruxinha que parece adorável.


Acho que sr. Miyazaki gosta de gatos.

A jovem escritora.

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