quinta-feira, 2 de janeiro de 2014

O Desafio "Um Livro Por Semana" #1

Segundo a Superinteressante, esta é The Trinity College Library, uma biblioteca que fica em Dublin, na Irlanda. Seu acervo inclui o Livro de Kells, escrito por monges celtas no ano 800! E acho que já deu para entender por que está aqui, ilustrando este post.

O Desafio

Tudo começou no dia 11 de novembro, quando eu li um post aleatório, traduzido do inglês e compartilhado no facebook. Dizia respeito a um desafio executado por um narrador anônimo, que afirmou que leria um livro por semana em um ano - o que resultaria em 52 livros. O fato de ser um prazo assustador é bem positivo, segundo o autor, porque faz com que você respeite o desafio; ao mesmo tempo, como esses números malucos e ambiciosos podem ser convertidos em uma escala de 40 páginas por dia, parece um desafio realizável, e não uma loucura digna de um certo Chapeleiro. Mais detalhes desse post vocês podem encontrar aqui.

Minhas regras

Eu topei porque estava cansada de gostar de ler e de me boicotar nessa tarefa; eu sou uma pessoa naturalmente enrolada, então eu acabo não fazendo tudo o que quero e me culpando depois. Com livros, é a mesma coisa: por pura preguiça, eu deixava de pegar um livro para ler. E não é uma preguiça "sadia", que indica algo sobre suas preferências, que diz que talvez você boicote uma ação simplesmente porque não quer realizá-la. Eu queria ler, mas a minha tendência a não agir, que chamaremos de "inércia", superava essa vontade.

Um desafio pareceu perfeito para me tirar da zona de conforto e ainda me deixar satisfeita com meu desempenho.

Absorvi do post onde encontrei o desafio tudo de que precisava. A parte mais importante é você manter uma rotina e não se perder de jeito nenhum nela ou dela. É preciso que você adquira um ritmo e goste do que está fazendo. Você pode estipular suas próprias regras, contanto que elas te ajudem sem te enganar - contanto que elas auxiliem na manutenção de uma rotina.

Eu topei "trapacear" - conforme o autor disse - o que, na linguagem do desafio, significa ler um livro pequeno ou um livro que já foi lido antes apenas para não perder o ritmo, quando a coisa realmente apertar. O negócio é não se acostumar a fazer isso e procurar ler sempre dentro do prazo! É possível, é realizável. Mas, de vez em quando, para não desistir, essa "trapaça" é saudável!



Chuva, uma amiga de tempos de leitura bastante conhecida.


Outra dica que ele mesmo sugeriu é aproveitar todos os instantes; aqueles cinco minutos em que você fica viajando na maionese, ou mesmo o tempo que se passa dentro do ônibus - eu já senti muito enjôo de ler em ônibus, mas comecei a inventar uns truques até passar. No auge da minha leitura, antes das férias, eu lia até durante a baldeação! Descia do primeiro ônibus com o livro na mão, caçava uma sombra em algum lugar próximo ao ponto de ônibus e lá ia eu reabrir o livrinho, em pé, enquanto espiava a rua, à espera do segundo ônibus. É divertido e compensa muito! Acho que li umas dez páginas em situações assim, e nunca antes, na história desta jovem que vos fala, o segundo ônibus chegou tão rápido. Só ler numa boa que chega!

Para me estimular a continuar me desafiando, resolvi postar um pouco sobre cada livro que participará do desafio. Farei um projeto de resenha sobre cada um e postarei sua foto, a começar por agora.



Certo, eu sei que existem diversas nuances para a definição de "ônibus lotado", mas basicamente a mensagem é: cada um pode dar o seu jeitinho.

Sempre que eu menciono o desafio para alguém, o que mais escuto é: "ah, mas ler desse jeito pode comprometer a qualidade da leitura", ou então "eu gosto de ler por prazer, e não por 'desafio'." O que posso dizer, nesta minha experiência de ter cumprido 11% do desafio (seis de cinqüenta e dois livros), é que compensa e muito! Eu sou uma pessoa muito lenta, mas mesmo assim consigo cumprir com o prazo e de uma forma prazerosa! Eu senti um rendimento muito maior em todos os setores da vida e "a hora do desafio" chega a ser alguns dos momentos mais esperados do dia! Durante algumas semanas particularmente corridas em que eu vivia entre o trabalho e as provas, eu me lembro de que parar para ler os livros significavam alívio, e as quarenta páginas corriam entre meus dedos - e olha que eu chegava a reler vários parágrafos de que gostava ao longo da leitura! Só relaxava e lia...

A questão é que, quando você ama fazer uma coisa, mesmo quando estipula um prazo apertado para ela, você cumpre com seu objetivo "brincando". Pelo menos é o que tenho descoberto sobre minha natureza.

Entendem? Eu não leio correndo, com pressa, ou qual seria o propósito da brincadeira? Dá pra esquecer facilmente o desafio ou o mundo apenas mergulhando. A verdade é que eu sentia uma espécie de escapismo controlado - de repente, eu estava saindo do mundo caótico, das obrigações do dia-a-dia, da correria, para entrar em um portal. Era como se eu abrisse um portal à luz do dia, no meio da rua, e entrasse nele de cabeça, para um país de maravilhas, e nele ficasse salvando terras encantadas, conhecendo dramas familiares vitorianos, conspirando em mundos distópicos, e tudo para retornar a uma feliz realidade depois. Para continuar com minha vida, mais relaxada, mais criativa e mais feliz.

Se há uma coisa que esse desafio tem me trazido é a noção de aproveitamento de tempo. Não é porque eu amo ler que ficava lendo livros todo o tempo, simplesmente porque não era organizada o suficiente para isso, e agora consegui me organizar para ler uma parte do que gostaria.

Impor a si mesmo um lazer é muito divertido, e eu recomendo! Impor a si mesmo um lazer é desencadear uma mudança em suas estruturas. É sair de uma zona de (des)conforto, e por isso vale a pena!

Esta imagem define a magia da coisa:



Aposto que viu essa imagem cantando a musiquinha!

Fahrenheit 451: De 12 a 18 de novembro de 2013

Conforme disse acima, para me ajudar a me organizar e, é claro, para cumprir com meu hobby de postar no Caóticos, resolvi falar um pouco sobre cada livro que fizer parte do desafio. E o livro da vez foi esse que comprei há muuuuito tempo, quase um ano, que inclusive postei aqui mas nunca terminei de ler - pelo menos, não até o início do desafio. E para não começar fracassando, decidi começar por aqueles a cuja leitura eu já havia dado início. Assim poderia terminar até antes do prazo e me animar a continuar!

Fahrenheit 451 é um clássico, por isso merece ser lido por uma questão de conhecimento de mundo. E merece uma categoria especial junto com 1984, de George Orwell, e Admirável Mundo Novode Aldous Huxley. Assim como esses dois clássicos, ele foi escrito nos anos 50 e, como esses dois, é uma distopia aplicável à realidade atual.


E aqui estava eu procurando imagens para ilustrar o post quando encontro ISTO! Quantos gatinhos brincando com novelos de lã esse cara merece? Escritor phoda e ainda por cima posa para a foto com um bruxinho gostoso-mordível-apertável.


O mundo distópico concebido por Ray Bradbury é futurista. Nele, os carros voam em alta velocidade, de modo que os outdoors são gigantescos para que os motoristas possam lê-los sem frear seus automóveis; as televisões são imensas, hipercoloridas e tridimensionais, e nelas são transmitidos programas de conteúdo raso e forte interação com o público, representando a "família" dos telespectadores. Nesse mundo, as pessoas vêem televisão e não conversam entre si - elas visitam as casas dos amigos exclusivamente para ver televisão juntos (logo não conversam, estando juntas sem realmente estar) -, e as raras "conversas" resumem-se a comentários sobre como uma roupa, um carro ou outro supérfluo "é legal e está na moda", não saindo desse lugar-comum. Não há um conteúdo emocional ou bagagem cultural nas conversas, e as universidades estão falidas quando o assunto é produção de conhecimento. 

Isso porque os livros há muito são proibidos; quando são encontradas, bibliotecas são queimadas por bombeiros, que há muito deixaram de apagar incêndios; eles apenas queimam livros enquanto mandam os leitores e guardiões desses monumentos para o hospício - afinal, gostar de ler é uma loucura.

Nesse mundo, os jovens limitam-se a sair em bandos nas ruas para correr com seus carros potentes, atropelar pessoas ou simplesmente brigar entre si. As pessoas são mais agressivas e solitárias. E vivem em nome de um prazer fornecido por supérfluos.

Nesse mundo, Guy Montag (eu AMEI esse nome) é um bombeiro de trinta anos, estável social e financeiramente que, naturalmente, começa a questionar tudo à sua volta. E então nossa novela começa...

Somos apresentados a muitos personagens interessantes, como Mildred, a esposa de Montag que fica conectada a programas televisivos todo o tempo, e Clarisse, uma jovem diferente dos demais, que intriga o protagonista com sua excentricidade. A história é narrada como se fosse um sonho, com a intensidade emocional do protagonista Montag que é reprimida e embutida em um mundo de introversão; ao longo dos parágrafos, acompanhamos esse bombeiro em sua busca de um sentido para a vida.

Eu me peguei ficando emocionada com vários parágrafos, de tão similares a música que são. Reli vários trechos, namorando-os, e encontrei muita beleza poética em um livro tão pequeno.

Nessa sinopse há alguma semelhança com a nossa realidade? Embora ainda possamos encher a boca quando o assunto é "livros" em vez de temer passar uma vida no hospício, eu achei muito interessante a interação humana quando exposta ao mundo da televisão. Naturalmente, a predição de Bradbury é pessimista, o que rende um ótimo romance, mas, excluindo o que atualmente seria um exagero, podemos encontrar lições aplicáveis à nossa realidade.

Quantas vezes deixamos de conversar com pessoas à nossa volta para assistir a filmes, séries ou simples vídeos no youtube? E aqui falo de simplesmente dar pouca atenção ou ignorar essas pessoas quando aparecem enquanto estamos com os olhos na tela.

Quantas vezes nos pegamos consumindo com os olhos, com a boca e com o bolso na tentativa de suprir um vazio que jamais se preenche quando poderíamos preencher parando para refletir e para compreender nossos sentimentos?

Quantas vezes nos pegamos lendo a versão resumida do tradutor do intérprete de um determinado filósofo, simplesmente porque a fonte original e pura é complexa demais e demandaria muito tempo de estudo nesse mundo caótico em que tudo funciona cada vez mais rápido?

Quantas vezes a agressividade e a violência substituem o diálogo? Afinal, Claude Lévi-Strauss, ponderando sobre estudos de seus colegas de academia, em As Estruturas Elementares do Parentesco, não coloca a briga e o conflito como trocas malsucedidas?

Acho que deu para sentir por que esse é um clássico aríete de mentes. E foi um ótimo pontapé inicial para o desafio!

Recomendo!


E aproveitando para mostrar o esmalte da semana em grande estilo.

2 comentários:

  1. Muito bom que você tenha comentado sobre o livro, ajuda muito os admiradores de livros ultra-light que nem eu. - Isaac

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  2. Que ótimo que você tenha gostado, Izy! :D Achei este muito, muito interessante e tem muito o seu perfil! ^^

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