Minha Lizzy preferida.
Para quem ainda não sabe, é sim um romance. Ele relata a história entre a Srta. Elizabeth Bennet e o Sr. Fitzwilliam Darcy, uma relação que se inicia de um modo hostil.
Como eu já conhecia "de internet" algumas imagens da adaptação de Joe Wright e simplesmente adoro a Keira Knightley, já fui ler com imagens formadas na minha cabeça sobre a aparência das personagens. Contudo, parece-me evidente, assim como para qualquer pessoa que tenha lido o livro, que Elizabeth Bennet não possuía a aparência displicente exibida nesse filme - apesar de ela não se importar em chegar desarrumada na casa de conhecidos para visitar a irmã doente, apesar de ela ser muito lúcida, revolucionária e completamente fora dos padrões da época. Houve algo de anacrônico na adaptação de 2005.
Mas, que se dane, eu imaginei a Keira durante o livro inteiro, e imaginei o Matthew Macfadyen como Sr. Darcy (apesar de o Colin Firth ter o dom, como mostra em"O Discurso do Rei", de encarnar o tipo e de ser um Sr. Darcy muito querido). Simplesmente não deu para imaginar outro rosto para a queridíssima Lizzy.
Sir Thomas Lawrence retratando Lady Harriet Maria Conyngham, futura Lady Sommerville.
Junto com os retratos de membros da Realeza, ele traz um pouco do início do século XIX, época em que se passa o romance deste post.
Jennifer Ehle e Colin Firth encarnando o casal que, em minha opinião, foi o mais fiel. Jennifer tem muito do "olho que ri" que eu imaginava, e Colin, um pouco daquela postura nobre, anti-social e arrogante do Sr. Darcy.
Matthew Macfadyen como o galã Sr. Darcy em uma das versões mais recentes e mundialmente conhecidas da obra.
2º livro: Orgulho & Preconceito
Data: De 19 a 25 de novembro
Ambientada no início do século XVIII e baseada nas vivências de Jane Austen, a história é um drama carregado de descrições ricas e ironia sutil a respeito da sociedade da época - mais precisamente da aristocracia rural inglesa. Basicamente, basta você imaginar um monte de gente engomadinha, cheia de criados, que possui como passatempo visitar-se mutuamente, falar uns dos outros e se distrair com jogos na sala de visitas em que você não precisa se exercitar (nessa época, as casas britânicas comportavam salas de jogos). Os bailes e banquetes são os grandes eventos.
Obviamente, eu acho o máximo. É de época, é britânico, então já viram, não é?
Claro que não gostaria tanto se não fosse pela Lizzy. Pois bem: nessa micro-sociedade privilegiada, temos, em uma determinada região, a família Bennet, relativamente "pobre" em relação aos outros, mas respeitável. O sr. Bennet é um homem sério, quieto, sedento por conhecimento e, por vezes, irreverente, um frustrado que se casou com uma mulher bonita que se mostrou superficial demais ao longo do tempo. Então, a fim de fugir da futilidade dela, ele se refugia em sua biblioteca, enquanto a mulher sobrecarrega a família com seus problemas que variam desde um bule de chá fora do lugar até o fato de suas cinco filhas não terem se casado ainda.
Essa preocupação dela se deve ao fato de que a família perderia suas posses caso o marido morresse, pois não há um filho varão para herdá-la, de modo que ela teme ir para a rua com a morte do marido - a menos, é claro, que case suas queridas filhas. A menina de seus olhos é a mais velha e doce Jane, bondosa e belíssima, e companheira de sua irmã imediata, a Lizzy. Ela tem pouco mais de 20 anos, é educadíssima, culta, benevolente e só vê qualidades nas pessoas, o que a torna ingênua.
Lizzy, ah!, a Lizzy é o tempero da história. Bem-humorada, brincalhona, sagaz e educada, adquiriu toda a cultura da época, gosta de música e de literatura, e é a menina dos olhos do pai; ao contrário da irmã, critica mordazmente as pessoas ao seu redor, com um olhar à frente do tempo, e suas observações são muito bem detalhadas pela autora. Ela não se conforma com desinteligências e injustiças, sempre, contudo, fazendo-o de um jeito encantador. Ela não é aquela filha polêmica e rebelde, mas não se curva diante do que acredita ser injusto. De personalidade forte, ela tem uma tendência a julgar as pessoas sem uma segunda avaliação, sempre condenando atos que ela mesma desaprova - é como se lhe faltasse um pouco da empatia de Jane. Analisa e julga demais.
Mary é considerada a "feia", que se refugiu no mundo do intelecto e da afetação para se fazer valer; fica exibindo seus dotes musicais para todos e falando difícil.
E, por fim, temos as caçulas, Kitty e Lydia, duas menininhas sonhadores e namoradeiras, que vivem sonhando com príncipes encantados e paquerando qualquer homem fardado à sua frente. Como não têm planos ou mesmo um olhar mais crítico sobre a realidade, são julgadas um pouco desmioladas pelo pai e pela Elizabeth.
Basicamente, nós assistimos aos enlaces e desenlaces sociais dessa família sob o olhar crítico de Elizabeth, que dela muito se diferencia. A história é focada especialmente em seu relacionamento que beira à intolerância com o sr. Darcy, um jovem misterioso, rico e orgulhoso que ela confronta.
Agora, nós temos o outro lado da história, composto pelo simpático cavalheiro Sr. Bingley que, logo no início da história, interessa-se por Jane Bennet, trazendo a possibilidade de um valioso casamento para a família Bennet, fato não muito bem-recebido por determinadas pessoas, como as irmãs dele; e, por fim, temos o Sr. Darcy, amigo íntimo de Bingley que, se de um lado é um respeitável cavalheiro e cheio de posses como o amigo, logo atrai a antipatia de muita gente devido à sua arrogância e ao seu excesso de sinceridade. O Sr. Bingley é belo rapaz simpático e principesco, e o Sr. Darcy, um homem cujo charme é colocado em xeque quando abre a boca e solta sua dose extra de orgulho, arrogância e rude sinceridade. Ao menos é o que parece.
Ao longo do livro, assistimos aos eventos desencadeados pelas relações interpessoais das personagens, que mostram suas qualidades e defeitos, e observamos os valores e hábitos da época. Assistimos às tragédias e comédias protagonizadas pela família Bennet e ao aparecimento de novos personagens, todos muito humanos e emocionalmente bem-descritos.
E assistimos ao desenrolar de romances enriquecidos pela cultura vigente.
Agora, nós temos o outro lado da história, composto pelo simpático cavalheiro Sr. Bingley que, logo no início da história, interessa-se por Jane Bennet, trazendo a possibilidade de um valioso casamento para a família Bennet, fato não muito bem-recebido por determinadas pessoas, como as irmãs dele; e, por fim, temos o Sr. Darcy, amigo íntimo de Bingley que, se de um lado é um respeitável cavalheiro e cheio de posses como o amigo, logo atrai a antipatia de muita gente devido à sua arrogância e ao seu excesso de sinceridade. O Sr. Bingley é belo rapaz simpático e principesco, e o Sr. Darcy, um homem cujo charme é colocado em xeque quando abre a boca e solta sua dose extra de orgulho, arrogância e rude sinceridade. Ao menos é o que parece.
Ao longo do livro, assistimos aos eventos desencadeados pelas relações interpessoais das personagens, que mostram suas qualidades e defeitos, e observamos os valores e hábitos da época. Assistimos às tragédias e comédias protagonizadas pela família Bennet e ao aparecimento de novos personagens, todos muito humanos e emocionalmente bem-descritos.
E assistimos ao desenrolar de romances enriquecidos pela cultura vigente.
Ponderações
Eu li esse livro na semana mais corrida de final de ano. Eu estava muito estressada, muito cansada, mas parava nas viagens de ônibus ao longo do dia para lê-lo. Quando fazia isso, esquecia tudo, e o mundo ficava temporariamente para trás.
O barato de ler em momentos felizes (apesar de corridos) é que a coisa não fica tão escapista - você não entra na Matrix para retornar a um mundo apocalíptico. É um mundo real o de retorno, porém agradável. Doce perspectiva.
Mas ainda havia essa noção de mergulhar em um mundo novo.
Jane Austen é o fenômeno que considero "escritora perfeita". A quantidade de informações e as palavras que escolhe é dada na medida certa, nem mais e nem menos. Você passeia pelo livro sem a sensação de incompletude, já que entramos nas nuances das paisagens e na profundidade das personalidades tão humanas das personagens, tudo com um requinte de ironia que não torna os detalhes tediosos. Se não houvesse as descrições dos cenários, da aparência dos personagens, de suas emoções ou gestos, a narrativa soaria mais corrida, afobada e incompleta que o terceiro filme de Harry Potter. É o típico livro que te entretém de uma maneira cortês, como se as palavras representassem devidamente um mundo. É uma leitura densa, mas não exaustiva - Jane sabe como colocar um mundo em palavras, imortalizando uma época que não conhecemos. Aquela sopa de letrinhas soa como um banco de dados de uma época remota, regada a uma ironia revolucionária e um toque romântico não muito açucarado.
Há toda uma polêmica o fato de a pessoa representada ser Jane Austen ou não, mas achei válida.
E acabo de descobrir que Anne Hathaway encarnou Jane Austen em um filme chamado "Becoming Jane", e é claro que vou conferir.
A aparentemente hostil relação entre Elizabeth Bennet e Fitzwilliam Darcy (eu só queria falar o nome dele completo, hahaha), bem como a paixão entre Jane e Bingley são narradas de uma forma interessante, quase prosaica; Jane Austen transmite toda a discrição das relações humanas da época, e estabelece um dia-a-dia rico em eventos e em detalhes, expondo como o mundo de uma pessoa apaixonada não se resume à sua paixão. Entendem? A apaixonada, sonhadora e gentil Jane Bennet é mais do que uma moça a sonhar acordada - ela tem um papel no cotidiano, o papel da vida. E as relações e preocupações de Elizabeth não culminam sempre no Sr. Darcy, o que resulta em surpresas e em uma rica rede de contatos, intrigas, diversões. O que você tem ali é um cotidiano a ser narrado de uma forma incomum e nada entediante.
Eu diria que pode também ser um romance fofinho com uma descrição densa, sólida, que se aprofunda no conhecimento da humanidade - não é à toa que é uma obra tão estudada! E a história de amor central é uma das mais belas que já vi.
A Elizabeth é, como muitos já devem saber, uma heroína - e ela faz valer o título. Ela é forte, justa, determinada e engraçada; ela é um contraste com a belíssima e doce irmã Jane, que parece representar o ideal da época - a beleza extraordinária européia, o talento para as artes e a doçura. Lizzy é descrita como dona de olhos negros, que podem ser interpretados como castanhos, representando a beleza mundana da humanidade com a cor mais comum de todas. O Sr. Darcy, no início do livro, questiona sua beleza, colocando-a como comum - mas a atitude da moça a torna totalmente diferente. Ela é a representação da espontaneidade humana, da moça que se descabela e suja as botas de lama se for preciso (em uma época rigorosa) e que transmite viço; ela mostra que não há beleza mundana realmente. Ela possui um estilo anti-Mary Sue que aprecio muito, porque essa espontaneidade dela não é vista nem com alegria e nem com desprezo pela população. Há quem simpatize com seu jeito (Sr. Bingley), há quem deteste (irmãs do Sr. Bingley), há quem menospreze (Sr. Darcy). O recado que senti foi: o que torna Elizabeth uma heroína não é o fato de ela ser mundana ou contrariar, mesmo que discretamente, a mentalidade vigente, simplesmente porque o mundo não gira em torno do seu umbigo. Não é como se houvesse um planeta inteiro para você enfrentar, multidões que amam sua iniciativa e multidões que detestam; todos estão preocupados com o próprio umbigo, por isso ser uma heroína é apenas gostar de ser quem você é. Sem adoradores arrebatados ou odiadores furiosos. That's it.
Então, apesar de ser "comum", ela não atrai multidõõõões como Bella Swan que, mesmo sendo mais normalzinha, atrai um vampiro E um lobisomem e quase gera um guerra civil em decorrência disso. Eu sei que falo muito de "Crepúsculo", porque li todos os livros e gosto da obra, mas cabe aqui ressaltar como que, enquanto Crepúsculo centraliza a Vida, o Universo e Tudo O Mais em uma figura mundana, Orgulho & Preconceito descentraliza. Lizzy precisa ter confiança e brilho próprio para sustentar a própria natureza mundana, porque ela não atrai magicamente a atenção de todos. O que, para mim, é uma excelente lição para a vida: seja você mesmo o protagonista de sua vida em vez esperar holofotes alheios. Porque esses holofotes, ao contrário do que vemos na ficção, não acontecem tão facilmente e, mesmo que aconteçam, não importam realmente. Se você tem tanta necessidade de buscá-los, então algo anda muito fora da casinha.
Então por que ser um herói sem um reconhecimento, sem deferência? Pelo simples prazer de contemplar a própria existência. Apenas isso.
Se Fahrenheit 451 trouxe uma visão crítica muito adequada à nossa realidade, Orgulho & Preconceito evocou a luz própria que todos possuímos.
A Elizabeth é, como muitos já devem saber, uma heroína - e ela faz valer o título. Ela é forte, justa, determinada e engraçada; ela é um contraste com a belíssima e doce irmã Jane, que parece representar o ideal da época - a beleza extraordinária européia, o talento para as artes e a doçura. Lizzy é descrita como dona de olhos negros, que podem ser interpretados como castanhos, representando a beleza mundana da humanidade com a cor mais comum de todas. O Sr. Darcy, no início do livro, questiona sua beleza, colocando-a como comum - mas a atitude da moça a torna totalmente diferente. Ela é a representação da espontaneidade humana, da moça que se descabela e suja as botas de lama se for preciso (em uma época rigorosa) e que transmite viço; ela mostra que não há beleza mundana realmente. Ela possui um estilo anti-Mary Sue que aprecio muito, porque essa espontaneidade dela não é vista nem com alegria e nem com desprezo pela população. Há quem simpatize com seu jeito (Sr. Bingley), há quem deteste (irmãs do Sr. Bingley), há quem menospreze (Sr. Darcy). O recado que senti foi: o que torna Elizabeth uma heroína não é o fato de ela ser mundana ou contrariar, mesmo que discretamente, a mentalidade vigente, simplesmente porque o mundo não gira em torno do seu umbigo. Não é como se houvesse um planeta inteiro para você enfrentar, multidões que amam sua iniciativa e multidões que detestam; todos estão preocupados com o próprio umbigo, por isso ser uma heroína é apenas gostar de ser quem você é. Sem adoradores arrebatados ou odiadores furiosos. That's it.
Então, apesar de ser "comum", ela não atrai multidõõõões como Bella Swan que, mesmo sendo mais normalzinha, atrai um vampiro E um lobisomem e quase gera um guerra civil em decorrência disso. Eu sei que falo muito de "Crepúsculo", porque li todos os livros e gosto da obra, mas cabe aqui ressaltar como que, enquanto Crepúsculo centraliza a Vida, o Universo e Tudo O Mais em uma figura mundana, Orgulho & Preconceito descentraliza. Lizzy precisa ter confiança e brilho próprio para sustentar a própria natureza mundana, porque ela não atrai magicamente a atenção de todos. O que, para mim, é uma excelente lição para a vida: seja você mesmo o protagonista de sua vida em vez esperar holofotes alheios. Porque esses holofotes, ao contrário do que vemos na ficção, não acontecem tão facilmente e, mesmo que aconteçam, não importam realmente. Se você tem tanta necessidade de buscá-los, então algo anda muito fora da casinha.
Então por que ser um herói sem um reconhecimento, sem deferência? Pelo simples prazer de contemplar a própria existência. Apenas isso.
Se Fahrenheit 451 trouxe uma visão crítica muito adequada à nossa realidade, Orgulho & Preconceito evocou a luz própria que todos possuímos.
Orgulho & Preconceito é um livro sem excessos, mas que não parece feito para ser assim; embora atraia o público feminino, ele não é voltado para esse público. Ele não é excesso de romance, excesso de açúcar, excesso de realidade, excesso de detalhes, excesso de ironia. É uma sátira que faz com que você adore e deteste uma determinada época, uma sociedade; você pode se perder na nostalgia de uma época não conhecida e, ao mesmo tempo, rir de seus trejeitos potencializados pelo Sr. Collins e pela Lady Catherine De Bourgh; você pode dar razão à Lizzy em alguns instantes, à Jane em outros, ao Sr. Darcy... e pode compreender o sr. Bennet e, ao mesmo tempo, censurá-lo.
Cada página soa como um cenário novo desse mundo, fazendo com que você se perca nele. A verdade é que nem parece que você está lendo, tão forte é a imersão; tudo ganha vida, e há tanta força e profundidade na composição das personagens que elas estão ali, vivas, como se tivessem realmente existido. É uma sociedade em que menos é mais. Em que as palavras são poucas e bem escolhidas, e você percebe como são carregadas de significação, como cada palavra faz diferença, e você vibra a cada diálogo. Você sente toda a discrição da época e como cada gesto faz a diferença, você sente a imersão de interpretar cada reação ricamente descrita.
E é muito interessante isso! Hoje, a gente pode entrar na internet, escrever "adoro você" para um amigo, falar "eu te amo" para Deus-e-o-mundo, abraçar, rir... mas, naquela época, vigorava toda uma etiqueta, um código em que a descrição era quase Deus. Andar de mãos dadas? Nem pensar. Então tudo é muito sutil (e, por isso, muito gostoso). Por mais que eu adore a época atual, em que não precisamos conter nossos sentimentos (a vida real agradece), como não apreciar dar uma de Watson ao lado da Sherlock Lizzy? Como não apreciar um passeio em uma tarde amena de primavera, por prados floridos com uma companhia cavalheiresca cheia de códigos de conduta? É divertido.
Orgulho & Preconceito é, assim como o Fahrenheit 451, um clássico literário. Se eu fizesse uma lista (quem sabe?) de livros para ler antes de morrer, com certeza incluiria esse. Por isso: recomendo!
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