quarta-feira, 23 de janeiro de 2013

Sobre "Cloud Atlas"




Boa noite! Eu não queria postar antes de resolver umas pendengas na próxima semana, mas como inspiração não escolhe hora e fatos importantes também não, cá estou sacrificando um tempo sagrado para escrever sobre o filme que acabei de ver no cinema.
    
Fui com o namorado e a sogrinha, que aceitaram uma sugestão minha, apontada há meses por um amigo - e que eu andava aguardando desde então.
      
Meses. 
      
Acho que não se arrependeram.

     
Os mais atentos perceberão que o filme está no título do post e, sobre isso, quero dar ênfase, mais uma vez, à incompetência da indústria tradutora de filmes nacional. Sim, senhores, Cloud Atlas foi a mais recente vítima de uma tradução capenga e genérica que assola os filmes internacionais que chegam nestas terras tropicais fluentes - ao contrário do que o mundo pensa - em português, e não em espanhol.
      
Traduziram o negócio para "A Viagem". Isso mesmo: A Viagem.
     
Após ter visto o filme, tive a impressão de que os tradutores, confusos - levando-se em consideração seu nível intelectual a partir de seus trabalhos anteriores - olharam um para o outro e disseram: "esse filme é mó viaaaaaagem, brother..." 
      
O mais irônico é que "A Viagem" é também o nome de uma novela global de sucesso dos anos 90 que também tratava de reencarnação. Só que sem os efeitos dos irmãos Wachowski e tals.
     
O que me deixa estarrecida é que "Cloud Atlas", além de ser um título singular, remete diretamente a um importante elemento do filme, ao contrário de A Viagem.       
     
Deixemos de lado o carma brasileiro de ver filmes mal-traduzidos e falemos de outro carma: o carma interpretado por Cloud Atlas, que é uma recente obra-prima dos mesmos diretos de Matrix e Corra, Lola, Corra, (irmãos Wachowski e Tom Tykwer) um trio que dirigiu seis histórias distintas que acabam se cruzando.
      
Notem a presença singular das três letras inglesas do alfabeto juntinhas em fila indiana no nome do diretor Tykwer. Interessante, não?
       
Não? Continuemos.  
     
Sobre as seis histórias distintas, é um roteiro não-linear sobre carma e reencarnação.
     
As histórias se passam em tempos diferentes. Um deles é remoto, com uma civilização aparentemente primitiva (eu disse aparentemente); outro  lembra os idos do século XIX; uma história se passa mais ou menos em 1940; outra em 1973; outra em 2012 e outra no século XXII, em um mundo futurista com a assinatura dos irmãos Wachowski. São histórias que aparentemente não têm muito em comum, mas as referências de um tempo em outro vão aparecendo, bem como os atores, que interpretam vários personagens - ou suas reencarnações.
      
O filme começa muito confuso, tanto que quero ver de novo para pescar os elementos despercebidos - sim, esse é um dos filmes a que você precisa assistir muitas vezes para compreender completamente, e as cenas são muito rápidas para muita informação. O começo é impressionante, logo com o Tom Hanks atuando (excelente, como sempre) e introduções dramáticas às respectivas histórias são feitas - e, após os créditos, tudo realmente começa.
    
A sincronicidade dos eventos é sensacional. Ocorre um revezamento constante de história, mas o clímax em todas é semelhante e simultâneo, as emoções que despertam são as mesmas e igualmente simultâneas, e isso é lindo! Os diretores souberam quando colocar as cenas mais longas e quando colocar as mais curtas, e os cortes também se encaixaram completamente. Fotografia, efeito e tomada, tudo perfeito.
      
Se você não gosta de spoiler algum, pule para o último parágrafo do post; se não se importa em ser introduzido ao assunto com o devido respeito ao elemento surpresa, eis um resumo para chamar a sua atenção para o filme e, como não-adepta a spoilers que sou, tomei o cuidado de não contar detalhes relevantes.
      
Em um tempo remoto, um homem precisa lidar com os próprios demônios enquanto vê seu povo - primitivo e vulnerável - aceitar a presença de uma mulher oriunda de uma civilização desconhecida e evoluída. Detalhe: o povo primitivo é loiro e branquinho, e a civilização evoluída, negra.
    
Em outro tempo, semelhante ao século XIX, um rapaz intelectual acometido recentemente por uma grave doença tem a missão de retornar à Europa para entregar ao sogro o contrato finalizado com um fazendeiro escravista e, principalmente, para reencontrar sua amada.
        
No início do século XX, um músico aventureiro pretende compor a melhor música de todos os tempos e conta suas aventuras e desventuras através de cartas para seu amante, um jovem romântico e apaixonado.
        
Nos anos 70, uma jornalista de espírito independente segue os passos do falecido pai na carreira e se mete em uma trama de proporções desconhecidas quando um senhor com um segredo foi misteriosamente assassinado - e descobre que a própria vida está em risco.
     
Em 2012, um velho, arrogante e materialista editor sofre as conseqüências de seus atos egoístas enquanto reflete sobre quem se tornara ao esquecer, com o passar dos anos, o valor do amor e da segurança dos bons sentimentos. Ele precisa fugir de um gângster irlandês e acaba sofrendo retaliação de outras pessoas com quem aprontara ao longo da vida - e  experimenta muitas aventuras enquanto almeja de forma angustiante a liberdade.
      
No século XXII, o mundo está completamente diferente, e uma mulher criada em laboratório para trabalhar como garçonete em uma importante multinacional começa a questionar, aos poucos, quem é e em que mundo vive, colocando em risco interesses de gente poderosa só por ser capaz de pensar.
    
São, aparentemente, histórias totalmente diferentes, mas acabamos descobrindo elos entre elas que são reforçados pela repetição de atores. Essa repetição não torna o filme superficial - pelo contrário, é maravilhoso ver o mesmo ator em papéis completamente diferentes, e a relação entre essa atuação múltipla e as múltiplas reencarnações soa muito convincente. Tom Hanks, sem dúvida alguma, é um dos maiores suportes nesse quesito, com sua atuação extremamente flexível. Outro que se mostrou fenomenal foi o Hugo Weaving, queridinho dos fãs de Matrix e, pelo visto, também dos irmãos Andy e Lana Wachowski, não sem razão - e não posso falar muito de sua atuação sem spoilear, vocês verão o que quero dizer. Os outros atores também não deixam a desejar, e só não digo mais em relação a eles porque seria spoiler acima do recomendado.
    
Eu nem gosto de fazer esse post porque gostaria que vocês vissem como vi: sem entender nada desde o começo. Vale muito a pena.
     
A mensagem do filme é impressionante e sua duração parece curta demais para seis histórias. De repente, você está rindo para caramba ou chorando, ou está arrepiado demais por enxergar uma ligação entre os tempos ou o cenário futurista do século XXII - são muitos arrepios, por sinal. O começo é de arrepiar; a relação entre os tempos, então, nem se fala. São relações sutis, tão sutis que você deixa passar muita coisa, porém tem vontade de apertar o botão "stop" para respirar um pouco e absorver a recente revelação - o que não dá para fazer no cinema.
     
Cloud Atlas é um filme que recomendo para pessoas que estejam a fim de curtir algo com um roteiro fora de expectativas, confuso e acessível a mentes abertas - pessoas que entrem para captar uma mensagem. Pessoas que queiram ser surpreendidas pelo final mas que não tenham um leque de  desfechos prontos em mente.
     
Separei algumas imagens com a intenção de chamar a atenção sem revelar muito - e acho que me saí bem-sucedida na intenção, o que não significa que tenha selecionado as melhores figuras. Escolhi aqueles personagens de cara limpa e presença óbvia, cujos atores aparecerão de outras formas, porém mais disfarçados, e certamente você, se for expressivo como eu, vai soltar um grito que fará o cinema inteiro amarrar a cara cada vez que reconhecer um ator.

E tente não falar para a pessoa da cadeira ao lado qual ator é.
    
Gostaria de pedir desculpas sinceras ao meu namorado por toda vez que fiz isso.





Ai, Meu Deeeeus! É o cara daquela cena, só que bem mais velho!


Vamos às imagens:



















 E uma discreta indicação de qual seria a tradução mais adequada para o título do filme.


Essa não foi a melhor crítica que vocês poderiam ter lido sobre um filme, por isso, se agüentaram ler até aqui, vou dizer a melhor frase que alguém poderia expressar sobre essa película: larguem a internet com suas críticas capengas e seus spoilers irritantes e corram para o cinema. É só isso.

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