terça-feira, 29 de julho de 2014

O guardião do limbo



Havia essa pessoa, tão velha quanto a própria consciência, que tinha apenas um objetivo em sua longa vida: guardar algo cuja imensidão ele mesmo desconhecia.

Sua rede era feita de fios trançados, amaciados com linho e seda, e seu entretenimento consistia em investigar livros incompletos de palavras aleatórias que formavam histórias sem fim. Cada livro continha dúzias de histórias, e cabia a ele descobri-las, uma a uma e, por vezes, entretinha-se costurando as histórias já descobertas para decifrar um eventual padrão que as unisse em uma única narrativa.

Esgueirava-se agilmente por sua rede com certa freqüência, firmando os arreios que a prendia firmemente a galhos de procedência desconhecida; alguns bonitos e vistosos, como se pertencessem a sábias árvores centenárias, porém outros eram tristes e doentios como escarpas de penhascos úmidos e obscuros. Ele não via a origem desses galhos que forneciam o apoio de sua morada, mas sabia que eram firmes, pois há muito se encontrava ali, cumprindo sua função de guardião.

segunda-feira, 28 de julho de 2014

Os Novos Contos de Fada

Em 1959, os estúdios Disney lançaram “A Bela Adormecida” (Sleeping Beauty), uma versão contemporânea do conteúdo original de Charles Perrault, pai da literatura infantil, nascido no século XVII. Essa conhecida animação tem seu enredo resumido da seguinte forma na wikipédia:
“Em um reino distante, ao completar 16 anos, a princesa Aurora sofre uma terrível maldição da malvada bruxa Malévola ao espetar o dedo no fuso de uma roca. Ela cai em um sono profundo de 100 anos.
Mas as três fadas-madrinhas (Flora, Fauna e Primavera) descobrem uma forma de quebrar o feitiço: um beijo doce e verdadeiro de amor. Com Aurora adormecida, as fadas resolvem adormecer todo o reino. O príncipe Filipe, que é apaixonado por Aurora, munido de um escudo da virtude e da espada da verdade, combate e derrota Malévola e finalmente quebra o feitiço da princesa Aurora com um beijo de amor verdadeiro.”
Esses elementos predominaram nos contos de fada durante muito tempo, prevalecendo no nosso cotidiano. A luta entre o  bem e o mal consiste em um maniqueísmo clássico de nossa cultura, exposta em contos de fada e em outros tipos de histórias narrados em filmes, peças teatrais, livros, programas de rádio, novelas televisivas – em qualquer mídia de entretenimento, enfim. A figura da pureza, no caso, reside na bela princesa Aurora, injustamente amaldiçoada, que partilha de um fardo sem culpa alguma; ela é ajudada constantemente de forma eficaz por três bondosas fadas-madrinhas. Malévola é a bruxa má, corrompida, que quer, sabe-se lá a que preço, a destruição da princesa, mas o amor verdadeiro será responsável por colocar os planos da fada malvada a perder, e esse amor verdadeiro é simbolizado pelo príncipe encantado – que derrota o mal com sua espada justiceira. De acordo com esse conceito, existe o bem, existe o mal tentando se sobrepor ao bem e existe o amor verdadeiro simbolizado na figura de um jovem casal, que vence o mal.

domingo, 27 de julho de 2014

... E as aparências não enganam, não.



Há coisas que outras pessoas parecem saber, mas que só entendemos com direito a epifania muito tempo depois.

Foi o que aconteceu comigo nos últimos dias ao ouvir pela trigésima oitava vez "Como Os Nossos Pais", do Belchior e com maravilhosa interpretação de Elis Regina. Eu não tinha parado para sentir o significado da letra:

Minha dor é perceber 

Que apesar de termos 

Feito tudo o que fizemos 

Ainda somos os mesmos 

E vivemos 

Ainda somos os mesmos 

E vivemos 
Como os nossos pais...

Nossos ídolos 
Ainda são os mesmos 
E as aparências 
Não enganam não 
Você diz que depois deles 
Não apareceu mais ninguém 
Você pode até dizer 
Que eu tô por fora 
Ou então 
Que eu tô inventando...

Mas é você 
Que ama o passado 
E que não vê 
É você 
Que ama o passado 
E que não vê 
Que o novo sempre vem...

Compulsão do momento: filme "Penelope"



Nessa caravana do inglês a ser aprendido, venho caçando em plenas férias uns filmes legais para ver em meio a tantos seriados bacanas. Após Romancing The Stone e Trouble in Little China (clássicos que merecem post), achei, por acaso, Penelope, li a sinopse e vi despretensiosamente.

Ele tem sido a compulsão do momento. Calculo que o vi cerca de seis vezes em dez dias e, quando comecei a decorar as falas, senti que já podia largar um pouco.

Naturalmente, dedicarei este post a explicar por que o adorei.

Para começar, a protagonista é interpretada pela Christina Ricci, por isso pensei que fosse mais um daqueles filmes que ela protagonizou na adolescência, nos anos 90, sabem? Estilo Gasparzinho, Caçadoras de Aventuras, A Família Addams? Só depois vi que era relativamente recente, de 2007.

Alô, Turma dos Tigres! (Desafio #5)

Livro 5, lido entre 9 e 15 de dezembro de 2013: "A Maldição das Bruxas", da série Turma dos Tigres, do austríaco Thomas Brezina.

Alguém conhece?

Fiquei com preguiça de tirar a foto do meu exemplar, então vai essa montagem, mesmo.

Quando eu estava na sexta série, meu irmão teve de ler o paradidático "No Templo do Trovão". É um desses livrinhos interativos com charadas a serem desvendadas, e vem com um kit de detetive pra você descobrir os enigmas junto com as personagens - e as personagens, no caso, são os Tigres, uma série à parte da "Olho No Lance", que é uma coleção com essa finalidade interativa que mencionei. 

sexta-feira, 25 de julho de 2014

Reforma no Blog: tênis da Sandy e into the maionese



O "Caóticos" vivenciou algumas mudanças nos últimos dois dias, conforme havia mencionado que faria. Eu andava meio inquieta, insatisfeita com a antiga aparência do blog.

Não estou totalmente satisfeita ainda, mas agora talvez mais aliviada dessa minha inquietação geminiana. Estava há séculos pensando em mudar o lúdico azul & rosa para um aconchegante marrom.

Eu havia feito aleatoriamente um tile em rosa e azul enquanto brincava no photoshop; eram minhas duas cores preferidas da infância. Lembro que a Sandy lançou em 2003 um tênis com cheiro de morango (ou tutti-frutti, um desses negócios de fruta cheirosinhos); era azul e rosa e, por acaso, eu acabei comprando. Por acaso, mesmo, porque nunca curti a Sandy, mas meu irmão e eu fomos comprar tênis alguns dias depois - aquela época de colégio em que tudo o que você usava era tênis e, portanto, a sola gastava fácil -, então a vendedora me mostrou o tal "tênis da Sandy" por causa do sucesso que fazia; gostei e levei.

segunda-feira, 14 de julho de 2014

O Restaurante no Fim do Universo (Desafio #4)



Eu sei que parei de postar sobre o desafio, e estou cheia de sugestões literárias para soltar. Então, vamos lá! Em relação ao desafio:

Quarto livro: O Restaurante no Fim do Universo - dia 2 ao dia 8 de dezembro de 2013.



Esse é o segundo da série "O Mochileiro das Galáxias", que é constituída por seis volumes:

- O Guia do Mochileiro das Galáxias;
- O Restaurante no Fim do Universo;
- A Vida, o Universo e Tudo O Mais;
- Até Mais, e Obrigado pelos Peixes!
- Praticamente Inofensiva;
- E Tem Outra Coisa...

Existe uma divergência sobre o sexto integrar ou não a série - como não cheguei até ele, eu ainda não sei. Mas, aparentemente, é de outro autor.

Essa série foi escrita nos anos 70 ou 80, originalmente transmitida pela BBC Radio 4. O autor é o mítico Douglas Adams, que também escreveu Shada, um episódio de Dr. Who que nunca foi ao ar. Junto a Terry Pratchett e Neil Gaiman, foi (faleceu em 2001) mais um autor britânico aclamado de referências nerds. Sim, a série é mais um clássico nerd, por isso, se você é o tipo que está a fim de correr atrás de clássicos, como eu, essa é uma sugestão mais do que válida.

Quem não conhece a série deve ter achado os títulos, no mínimo, intrigantes. Não se preocupem: o conteúdo também é intrigante, do começo ao fim.

sexta-feira, 11 de julho de 2014

O vácuo dos multiversos



Um momento de epifania.

Epifania é uma coisa engraçada. É como se você entendesse de corpo, mente, coração e alma um determinado conceito - é uma compreensão simultânea, como o chute (kick) simultâneo que a galera de Inception organizou para conseguir despertar das diversas camadas de sonho.

É como se tudo funcionasse de forma caótica em nós mesmos, um labirinto de várias dimensões e, então, em meio a tantas conjunções e terminações sinápticas e existências espirituais, todos os caminhos se cruzam, resultando em um clique - e o clique é um salto.

A epifania de hoje foi em relação ao abismo entre multiversos.

Cloud Atlas e a espiritualidade #1


Eu fiz um post recomendando Cloud Atlas há mais de um ano - eu nem havia começado a faculdade! Como vi o filme pela terceira vez há mais de um mês, decidi que era hora de fazer uma análise um pouquinho mais pontual do filme e, desta vez, com spoilers.

Lançado há menos de dois anos por uma equipe de renome, Cloud Atlas (traduzido no Brasil para “A Viagem”) é um filme ousado. Longo, multifacetado, por vezes até confuso, ele coloca como objeto central as reencarnações.

“A Viagem” também foi o nome de uma novela exibida nos anos 90 pela Rede Globo, no Brasil. Ela também tratava sobre reencarnações à luz do espiritismo kardecista. Pela semelhança temática, achei curioso o longa ter o mesmo nome.

Eu não sei se foi a tradução mais adequada para o título do filme porque acho que a idéia não é bem essa – achei um pouco vago diante do que o longa representa. Existe uma diferença notável no modo como o tema reencarnação foi inserido – foi mais humano, menos divino. Por “humano” e “divino”, eu quero dizer que a novela teve uma grande influência do espiritismo kardecista, com o roteiro baseado em duas obras psicografadas pelo médium Chico Xavier (inclusive o conhecido “Nosso Lar”). Algumas cenas ocorrem no entre-vidas, tanto no Umbral quanto nas colônias. Ou seja, a novela extrapola o conceito existencial para o “divino”, para o desconhecido, para a vida após a morte, para a existência enquanto espírito puro.

Cloud Atlas não vai por essa linha, atendo-se às vivências materiais ao longo de séculos, sem se meter no que acontece após a morte. Seu foco é apenas a reencarnação, e o quão complexa ela pode ser, inserida nessa dança do mundo pelo tempo e espaço.

Estou abrindo uma série de posts para ressaltar aspectos que considerei importantes no filme, e, por isso, aviso que haverá spoilers.