terça-feira, 1 de outubro de 2013

Vida de escritor...



Quem escreve, sabe como é.

Conheço poucos escritores. Penso agora em três pessoas que conheço e que escrevem histórias. E mais duas que escrevem roteiros para jogos.

Eu estou numa luta para continuar a escrever, apesar dos pesares. Sabe aquela história de ter tanta coisa na cabeça, tanto para fazer no dia-a-dia, que não sobra tempo?

É claro que sobra tempo. Nós fazemos nosso próprio tempo, e após insistências de amigos muito queridos, argumentos para lá de convincentes e broncas vindas do meu alter-ego, decidi me disciplinar a escrever minhas histórias após um longo período de hiatus. Escrever é preciso.

É meu ofício.

Podemos ter vários ofícios, várias profissões. Eu não conseguiria ter apenas uma - gosto de fazer tanta coisa!

Mas escrever é preciso. É um combustível para o meu espirito, é materializar meus pensamentos.

Afinal, o que é ser escritor?

Bom, em primeiro lugar, você não precisa ter um livro publicado. Não precisa de anos de experiência, ou mesmo um diploma; isso seria bom demais, fácil demais. Seria um sinal de que a vida de um escritor, no sistema capitalista, está ganha.

Claro que você pode, como escritor, ter tudo isso. Mas não é necessário ter para ser um.

Claro que ter facilitaria muito as coisas.

Mas não, um escritor não é nada disso. Um escritor dificilmente ganha a vida escrevendo - embora alguns o façam! E então se tornam exemplos para escritores amadores como a pessoa que "vos" fala (rs).

O que eu quero dizer é que, para ser um escritor, você não precisa ter o que mostrar a alguém - você só precisa ser! Eu não sou conhecedora do que rege a cognição, mas o que eu sei é que não é o que você ostenta que faz de você um escritor. E ainda bem!

Eu digo que sou escritora não por achar que sei escrever ou por me achar boa demais - é porque eu sinto isso. Eu sinto o que é ser um escritor. E eu sei que um escritor, nesse mundo de aparências, não tem o que ostentar.

Alguns têm, e eu respeito muito e quero ser como eles quando crescer.

Mas eles não começaram a ser escritores a partir daí. Eles já eram há muito, muito tempo.

Ser escritor é algo interno. É quase íntimo. Veja, a escrita não é algo tão apreciado visualmente, mostrável, quero dizer, não é um ato que sirva de entretenimento para um possível observador; basicamente, pega-se um papel e uma caneta, ou uma máquina de escrever, ou um computador, e coloca-se um monte de códigos. Não é algo que entretém um observador como uma dança, como uma música; e nem algo tão exótico quanto uma pintura.

Não; basicamente, o escritor é uma pessoa compenetrada que vai encaixando um monte de palavras, alheia ao mundo exterior. Não há nada musical em ver alguém escrevendo exceto pelas teclas em um ritmo repetitivo e não há nada para se ver - a menos que você pare para ler o que a pessoa escreve. Correndo o risco de não entender, especialmente se ele estiver fazendo apenas um rascunho.

Digo, não é a coisa mais bela do mundo de se ver. Deve ser por isso que não há curso de escrita em faculdades de "Belas Artes" essa foi péssima. *sai correndo*

E o escritor não espera que seja belo - longe disso, porque ele já está em outro mundo.

O escritor carrega um mundo com ele. Um mundo que passeia em sua mente através de palavras, de expressões. O escritor debruça-se sobre expressões, sobre jogos de palavras, vê nuances intermináveis na gramática e no vocabulário. Ele é um viciado - ele precisa escrever. Só.

E costuma fazer isso em um canto discreto do planeta, sem olhares, sem chamar a atenção, imerso em outra dimensão.

Ele sente que o faz e que não precisa da aprovação universal para sentir que está fazendo.

Ele só coloca tudo para fora. Como se quisesse contar a alguém.

Ele não se imagina lido por multidões porque ele não é um leitor que lê acompanhado de multidões.

Na realidade, ele se imagina a contar algo, como uma história, a alguém parecido com ele. A uma pessoa que, em algum momento, deixe o mundo um pouco de lado, pegue a história prestes a ser contada e busque o silêncio e a tranqüilidade para ouvi-la. Para lê-la. Para entrar nela.

Afinal, alguém que cultiva o hábito de buscar a discrição e a solidão para se aventurar no mundo da leitura dificilmente busca escrever para multidões. O escritor sabe que existem pessoas como ele, talvez uma, duas, talvez mais - o número não importa -, pessoas que se permitem esses instantes de solidão para ouvir uma boa história. E para apreender novas idéias. E é para elas que ele escreve. Pensando sempre no singular, numa presença singular e discreta, como ele, que busca a solidão, como ele, para entrar nesse mundo.

Escrever é coisa de quem busca a solidão. Uma solidão temporária, mas sem holofotes ou multidões, e é isso que importa.

Escrever é estabelecer um contato entre duas pessoas que se entendem: o escritor e o leitor. É uma conversa. Rica em histórias, em idéias, em expressões. Rica em sensações, percepções, uma rede rica em detalhes, em observações, em brincadeiras com experiências acumuladas. É uma vivência.

O escritor estabelece um momento para ele - um momento em que o mundo a ele pertence, ou nada feito. Ele estabelece um pacto com o mundo em que o mundo gira, permitindo que ele gire também - só que na própria sintonia com seu outro mundo, seu mundo interior. Esse seu outro mundo lhe arranca sorrisos, lágrimas, traz angústia, orgulho, satisfação, raiva, e muita, muita paz. E o escritor fica em paz com os dois mundos.

O escritor é senhor de si. Ele elege o seu canto, seu espaço, onde ele abrirá o portal para o seu mundo e iniciará seus contos, suas histórias, suas idéias... ele expressará tudo o que lhe vem a mente. Ele brincará com isso. Ele se divertirá com isso. Ele será o criador, o arquiteto - e ele sentirá a força da própria criação durante a execução de todo o ritual. Ele não se importará com o que há lá fora, porque ele sabe quem ele é - porque ser quem é lhe traz essa paz, que ele não sentiria se não o fosse. O escritor sempre sabe que é um escritor. Mesmo que não lhe digam.

É seu fardo e sua maior satisfação.

E ele não vai dizer isso muitas vezes e nem fazer alarde. Não vai dizer por aí que é um escritor porque apenas dizer não traz o sentimento - apenas ser. E ser ele só é quando pratica. Quando exerce.

Não é algo para se orgulhar; é um ofício, mas não segue as vias formais. Apenas é uma necessidade do espírito.

Eu sou escritora desde os meus oito anos. Eu nunca falei plenamente o que é escrever para mim, e não são todos que sabem que escrevo histórias porque, sei lá, eu não sinto necessidade de dizer isso, simplesmente não há motivo.

É como dizer que tenho 1,60 m de altura, só que é mais íntimo. Eu tenho, mas não há motivo para dizer.

Só que eu quis postar isso porque, para começar, é o meu blog, onde compartilho coisas que têm a ver comigo, e decidi compartilhar um pouco dessa sensação, um pouco de mim; talvez, ao escrever sobre isso, colocando um tanto para fora, eu encontre ainda mais determinação para acabar meus livros. Então aproveitei para mostrar esse lado meu, um pouco dessa coisa tão importante para mim que é escrever.

Talvez, se passar um escritor por aqui, ele se identifique com esse texto.

Ou talvez tenha seu modo particular de sentir e expressar a escrita. Provavelmente.

Quando eu terminar um livro ou estiver bastante imersa na rotina de escrever, farei um post mais bem-humorado sobre as aventuras e desventuras de ser um escritor! :D

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