quinta-feira, 21 de janeiro de 2016

O que mudou em um ano?



2015 não voou; ele decolou para o infinito e além.

Foi rápido, intenso e bastante proveitoso.

Eu sei que mais de vinte dias já se passaram desde o começo do ano, mas não me sentia pronta para escrever sobre o ano que começa. Digamos que foi uma virada tranquila em sua essência, mas eu estava tão ocupada com trabalhos e projetos paralelos - e houve tanta novidade e correria em 2015 - que nem parei para fazer o meu balanço pessoal. E precisava refletir antes de escrever.

É uma sensação engraçada: não é porque o ano virou de verdade que eu senti algum encerramento de ciclo, entendem? O ano veio e passou e precisei de dezoito dias para sentir essa renovação e colocar alguns pensamentos no lugar - só então comecei a rascunhar sobre isso. 

Fiz um post sobre planos e metas para 2015 - na realidade, fiz também um arquivo no bloco de notas com esses sonhos e metas; escrevi de forma organizada, sucinta, e nunca mais o abri. Na verdade, eu me esqueci dele, apesar de o ter afixado na minha barra de tarefas. Como uso Bloco de notas e Excel para tudo (a maníaca dos esqueminhas, haha), poderia abri-lo ao longo do ano e repassar as metas e os sonhos - mas simplesmente larguei para lá e fui viver a vida.

Para a minha agradável surpresa, quando eu o reabri sem muita cerimônia nessa virada para ver como havia me saído, percebi que meu ano havia caminhando junto a esses objetivos - e que havia realizado os quatro. Apenas um item foi parcialmente cumprido, mas não foi deixado de lado. Fiquei imensamente satisfeita com esse resultado; percebi que, com bastante foco - falando simploriamente - é possível fazer acontecer. Mesmo que não tenha me dado o trabalho de revisar o arquivo, eu me lembrei todo o tempo de meus objetivos - o ato de sentar e colocar no papel é um exercício importante justamente porque, só pelo fato de fazer ali uma escolha e tomar uma decisão, você se responsabiliza pelo que quer - você dá voz a si mesmo. E aquilo ecoa em seu destino e respalda suas decisões por todo o tempo, mesmo que você não perceba.

É corriqueiro encontrar alguém que diga, com um sorrisinho debochado: "todo fim de ano é a mesma coisa: fazemos promessas e não as cumprimos!" Essa é uma perspectiva que não me atrai. Quanto mais adultos ficamos, mais responsáveis pelas nossas escolhas nos encontramos, e é muito triste essa perspectiva tão veiculada na internet; essa idéia de que segunda-feira é o pior dia (e a sexta, o melhor), de querer fazer um regime que nunca se consolida, de fazer promessas que não se concretizam. Todos os dias, sempre vejo alguma piadinha sobre isso - se fosse uma ou outra, seria até engraçadinho, mas os sites de relacionamento/entretenimento estão coalhados disso. É uma onda gigantesca de dizeres disseminadores de frustração/conformismo/insatisfação. 

Como não sinto afinidade com essa perspectiva, creio que deixei a minha lista de metas (enxuta) prontinha justamente para sorrir no final e constatar que passei um ano fazendo exatamente o que havia me proposto fazer.

Bom, havia também uma lista maior nesse mesmo arquivo que incluía formas de cumprir esses objetivos - e confesso que não a segui à risca. Não fui tão disciplinada quanto poderia ter sido. Mesmo assim, realizei os sonhos e cumpri com objetivos.

Agora estou reavaliando esses sonhos - uma espécie de parte II, dando continuidade à realização deles - e ajustando alguns pontos para assim seguir adiante com meus planos de vida. E estou acrescentando novos sonhos, novas etapas. Eu sei que é meio nebuloso falar dessa forma, mas é que estou meio zonza pelo fato de ter realmente conseguido realizá-los - só que a vida não termina por aí. Eu cheguei na season finale, resolvi os conflitos da temporada e me deparei com um plot para a temporada seguinte.

Agora que realizei o que foi esperado em 2015, preciso colocar no papel o que deve ser realizado em 2016 - e mudar algumas coisas. Há coisas novas que quero experimentar e outras que podem ficar para segundo plano. Contudo, o objetivo de vida persiste.

O que mudou de 2015 para 2016?

Bom, decididamente eu não sou a mesma pessoa, por isso antevejo um ano completamente diferente. 

Lembro-me de como comecei 2015 com uma mente mais sonhadora, sobrecarregada de desejos, de pensamentos, de idealizações, querendo algumas coisas que hoje não têm a menor importância - não falo dos sonhos, claro. Falo apenas de uma autocobrança que não existe mais. 

Entrei em 2016 me sentindo mais soberana. Palavra engraçada, eu sei - mas me define no presente momento. Estou me sentindo mais relax, natural, descomplicada. Gostando mais do presente, acho, e procurando, antes de mais nada, paz de espírito. Apenas isso.

Procuro cultivar um estado de lucidez e tranquilidade que me permita fazer sem pensar muito. Antes, era como se eu quisesse todos os sonhos do mundo de modo que nunca me sentia em paz, satisfeita; diminuía a mim mesma por estar tão aquém do ideal, alternando esses exaustivos momentos de queda com sonhos distantes, sem metas ou prazos... era aquela história: "não vamos colocar uma meta; deixaremos em aberto e, quando atingirmos a meta, dobraremos a meta". HAHA

Ainda bem que fiz o plano de metas para 2015 - parece que foi uma sementinha de sabedoria que me levou a isso. Parece que um lado esperto meu logo percebeu o nível de devaneio da pessoa que vos fala e ordenou: "vamos pôr ordem na bagaça". Então eu fiz um planejamento bem enxuto, como expliquei na época, fiel às minhas possibilidades, e fui feliz. A partir do momento em que sentei para planejar a vida, essa sementinha de sabedoria germinou, fazendo com que a "sonhadora saltitante" de 2015 se tornasse a pessoa mais centrada de 2016.

Acho que martelei tanto nessa questão de paz interior que virei 2016 já focando nisso. Para quem não vivencia pelo processo, ler sobre essas aparentes obviedades pode não passar de palavras vazias, ao vento, destituídas de um significado profundo. Mas não é bem assim. Na realidade, é aquela história que muita gente não aprende em casa: viva primeiro. Aprenda depois.

Muitos de nós somos criados para acertar, não para errar e nem flexibilizar nossas escolhas e acolher as conseqüências destas. Nossos pais parecem ter muito medo de nossos erros e nos previnem ao máximo, incapazes, por vezes, de aceitar que é a liberdade que nos traz maturidade. Por exemplo, não dá para aprender a andar de bicicleta, jogar basquete ou escrever apenas lendo em um livro; precisamos pegar e fazer. Quando pegamos, percebemos que existe um intervalo de aprendizagem entre nossa mente e o restante do corpo - sabemos o que é o certo, mas nosso corpo precisa de muitas tentativas para aprender. Às vezes, ficamos impressionados com a inépcia de nossas mãos, uma vez que nossa mente está sempre tão à frente do processo. Trabalhamos repetidamente com o corpo até este memorizar o movimento que a mente tenta ensinar a tanto custo - e então conseguimos realizar o movimento aprendido com perfeição. O nome disso é memória procedural.

A memória procedural, que é a memória dos movimentos que nosso corpo aprende - andar, escrever - é bem diferente, por exemplo, da nossa memória semântica. A semântica consiste em aprender conteúdos, sendo de natureza abstrata. Quando decoramos ou compreendemos alguma coisa, armazenamos na mente, e isso é um processo relativamente rápido. Se eu disser para você que o conceito de andar é "cair eternamente" ou que "se deve colocar um pé na frente do outro", decoramos semanticamente essa definição, e é bem rápido.

Mas aprender a fazer, a desenvolver a procedural, leva muito mais tempo. Andar, escrever, nada, pular, desenhar, digitar, manusear coisas - essas práticas são aprendidas de forma mais lenta e repetitiva.

O pulo do gato é que a memória procedural é a mais difícil de ser adquirida - mas a mais difícil de ser perdida; ela é a mais persistente de todas. Amanhã, você pode esquecer exatamente o que estou dizendo agora - mas pode ficar anos sem nadar ou andar de bicicleta que, quando a circunstância lhe demandar tais habilidades, elas retornarão. Retornarão mecanicamente, à revelia de nossa consciência. Você consegue andar ou nadar mesmo sem saber explicar como se faz - você não "declara" como se faz, simplesmente acontece

Penso que a dupla viver/aprender é análoga a esse processo. Teoricamente, podemos ler pilhas de textos sobre como viver a vida, mas precisamos realmente passar pela experiência para assimilar o processo.

Eu precisei me ver livre e sonhadora para entender que o mais importante é focar no aqui e no agora - no presente, e não num futuro do presente que pode se tornar futuro do pretérito a qualquer momento.

Por isso, ao contrário do que muitos pais (por medo) nos ensinam, a liberdade pode ser uma aliada essencial à maturidade.

E foi o que aconteceu comigo. Fiquei tão livre para sonhar e desejar que, ao final, entendi que nada no mundo seria satisfatório se não estivesse em paz com tudo. Que não seriam os acertos que me trariam sossego; que não seria a realização de um ideal que me traria satisfação.

Que o meio do caminho é mais importante do que o final.

Digamos que estou seguindo essa onda. Acredito que ter um plano de vida para os próximos anos me trouxe uma noção de realidade, do que fazer e, tendo isso em mente, passei a valorizar o presente - o futuro está ali, mais ou menos planejado. Aprendi a selecionar coisas e a excluir outras possibilidades, aprendi a enxergar o que combina mais comigo e o que é apenas um ideal que não precisa ser cumprido. Separando essas coisas e desenhando um estilo de vida, ficou mais fácil lutar por ele.

E pensar mesmo no presente. Creio que a novidade para 2016 seja explorar novas formas de lidar unicamente com o presente - e assim construir, realizar, consolidar.


Créditos da imagem: Elena Shumilova.

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