sexta-feira, 22 de janeiro de 2016

Dicas de palestras no youtube




Já falei que estou desenvolvendo em mim o hábito de ouvir ver vídeos longos no youtube.

Inclusive, uma amiga minha (oi, Mari!) e eu estávamos falando sobre isso. Eu estava comentando com ela que havia começado a ler um autor que há muito estava ansiosa para conhecer, mas achei a leitura enfadonha demais e que esperaria amadurecer como pessoa para enfim conseguir lê-lo.

Não é novidade para as pessoas ao meu redor que adoro ler - embora tenha aqui no blog uma categoria chamada "cultura", separei a parte literária em outra, "literatura"; e quero terminar um livro. Geralmente, escritores são ávidos leitores.

Após essa explicação quase óbvia, acrescento que, quando era mais nova, acreditava que o bom leitor tinha a obrigação de ler tudo. Na realidade, acho que o bom leitor realmente lê de tudo, mas não tudo; entenderam a diferença? É interessante para nós lermos até mesmo sobre temas que não são nossos prediletos pelo gosto de uma nova experiência e pela aquisição de um saber - mas não temos de ler todos os livros da Terra! Desde que apliquei o KonMari na minha vida, comecei a pensar nos queridinhos livros de uma forma diferente. Nós, ávidos leitores, endeusamos esses discretos blocos de papel cuidadosamente ordenados, mas não podemos perder de vista seu principal objetivo, que é a disseminação de um saber.

Assim, não somos obrigados a terminar todos os livros que começamos ou a gostar de tudo o que cai em nossas mãos. Podemos simplesmente interromper uma leitura, entender que não desejamos continuá-la por ora e passar esse reduto de saber adiante a alguém que esteja interessado e pronto para esse espécime que presentemente rejeitamos. Enquanto isso, reiniciamos outras leituras.

Por isso, essa sensata e virginiana amiga me sugeriu: "procura entrevistas dele no youtube, Bárbara". E então percebi: nem todo intelectual escreve tão bem quanto filosofa. Tem gente que fala melhor do que escreve; tem gente que escreve melhor do que fala. Quantas vezes não nos deparamos com escritores maravilhosos que parecem embotados quando precisam falar? E quantas vezes não nos deparamos com autores de idéias maravilhosas, ultrapertinentes, que têm desenvoltura e eloquência ao falar em público, cuja escrita parece estranhamente truncada?

E não é uma escrita rebuscada - é truncada. Orações longas demais (superiores a quatro longas linhas!) e uma seqüência de raciocínio desordenada que confunde o leitor. Então fica aí uma lição para minha vida: se eu me deparar com um grande autor cuja escrita não me prenda o suficiente, devo procurar vídeos seus ou mesmo entrevistas para outras mídias - ah, esses tempos contemporâneos com informação e conhecimento a nosso alcance! Maravilha!

Então, futuramente, poderei lhe dar mais uma chance e voltar aos seus escritos.

Meu professor de filosofia do Ensino Médio dizia que não existe arte ruim, mas pessoas que não estão preparadas ainda para compreendê-la. Em alguns casos, na escrita, acontece o mesmo - afinal, existe algo de artístico em escrever, mesmo se a informação que se pretende transmitir for de cunho filosófico ou científico. É muito difícil, para mim, pegar um texto e dizer que a pessoa "escreve mal". Difícil, MESMO! Eu nunca faço isso. E acho que é porque carrego essa centelha do meu professor comigo. Tenho muito cuidado ao julgar a obra que não compreendo e, por mais truncado que pareça o modo de escrever da pessoa, tento embarcar naquilo como se embarcasse em uma língua desconhecida - da mesma forma como tentaria escutar uma pessoa que falasse de maneira embotada.

Por isso, darei mais uma chance a esse célebre autor.

Todo esse big textão foi para dizer que estou mantendo o hábito de procurar palestras interessantes e vejo o youtube como um aliado para a aquisição de conhecimento, tão rico ele está em conteúdo. Ainda não procurei esse autor que mencionei especificamente; na realidade, as dicas que darei serão as dos últimos vídeos que vi - normalmente, como disse no outro post, eu gosto de ouvir palestras enquanto faço algo mecânico, como arrumar meus pertences. Esses dois vídeos eu vi enquanto pintava minhas unhas - aliás, é ótimo pintar as unhas ouvindo palestras! hahaha

Os dois palestrantes são dois professores e pesquisadores de que gosto muito: a psicanalista Maria Rita Kehl e o historiador Leandro Karnal.

Recomendo fortemente os dois vídeos.

O primeiro, da Maria Rita Kehl, traz uma reflexão sobre o ressentimento. É uma definição muito bacana a respeito dele, com vários recortes históricos e, por fim, uma contextualização dele na nossa sociedade e uma comparação com a revolta. Eu gosto muito dessa psicanalista porque as reflexões dela são sempre muito voltadas para a realidade cotidiana e nos ajudam a pensar em nossos padrões de comportamento - na maneira como lidamos com a vida ou como vemos outras pessoas lidarem com a vida. Pela psicanálise, a professora reflete sobre os afetos do sujeito, mas existe uma aposta no campo sociológico que permite também inserir o afeto individual no campo coletivo. Assim, a gente consegue refletir, com a ajuda dessa pensadora admirável, sobre como raciocinamos e agimos enquanto sociedade. Quais afetos regem nossa cultura e nosso cotidiano?
E o que é o ressentimento? Recomendo demais esse vídeo - muito bom!

A segunda palestra, do Leandro Karnal, é uma reflexão fortemente respaldada no Bauman sobre o sujeito contemporâneo e a espiritualidade. Para quem não sabe, Zygmunt Bauman é um sociólogo de noventa anos que usou a metáfora de uma sociedade líquida para descrever o período em que vivemos - esse "líquido" vem da idéia de que nossos valores não são mais sólidos. E o Karnal vai falar sobre isso, acrescentando seu olhar de historiador e se inserindo como um pensador ateu e estudioso dos valores cristãos. O que eu mais admiro no Leandro Karnal é a maneira classuda e acima do bem e do mal (hahaha) com que se porta; ele é tranquilo e educadíssimo - a gente simplesmente não vê ele sair do sério. Ao contrário do que muita gente pensa, a Academia, suposto recanto do saber, é permeada por orgulho e arrogância. Acontece uma guerra em que cada pessoa escolhe o seu time, o seu tema de conhecimento por toda a vida, e se agarra àquilo com unhas e dentes; se houver uma crítica à sua corrente teórica, ocorre um revide mais emocional do que racional, e muitas discussões deixam de evoluir porque alguns acadêmicos levam-na para o âmbito pessoal e encaram críticas como uma afronta àquela temática que pesquisam com tanto carinho. Pessoas que supostamente deveriam priorizar o saber filosófico/científico acabam dando vazão àquilo que temos de mais primitivo e infantil. E esse professor, em minha opinião, destaca-se justamente por se colocar acima dessa guerra e agir com sabedoria. Vale muito a pena conferir o que ele diz!


1. Maria Rita Kehl - Identidades e Ressentimento Psicológico



2. Leandro Karnal - O Vazio Contemporâneo e a Espiritualidade



Reparei que os vídeos dos posts antigos simplesmente sumiram - por isso deixei o nome de cada palestra bem destacado. Se esses sumirem também, é só procurar no youtube depois. :)

E vocês, têm descoberto coisas bacanas no youtube que gostariam de compartilhar?


Créditos da imagem: Yelena Bryksenkova. 

3 comentários:

  1. Ei Bárbara! Assim que terminei de ler seu post me vi retirando um tanto de livros da estante para fazer esse comentário haha xD É que as associações que ele suscitou foram muitas, mas tentarei ser breve.
    A primeira coisa que achei interessante (e que não sei se foi proposital ou não) foi você iniciar o texto falando sobre estilos de escrita, passar por estilos de fala e terminar em diferentes modos de se levar a vida... levar a vida como forma de escrever sua própria história, de escrever e de narrar a si mesmo me parece uma bela metáfora =)
    Sobre as pessoas/autores que escrevem difícil e truncado. Bom, essa é de fato uma realidade particularmente presente na vida de quem gosta de literatura e (pra complicar rs) é estudante de Humanas. Por falar nisso, gostaria de compartilhar duas vivências: a primeira diz respeito a uma das obrigações que sempre me impus em minha trajetória acadêmica: revisar os textos dos colegas nos trabalhos em grupo, o que por n fatores sempre me rendeu muita dor de cabeça, estresse e uma carga de trabalho sobre-humana. A segunda foi a experiência que tive sendo monitora de uma disciplina no semestre passado, na qual a maioria dos trabalhos eram escrever resenhas e artigos. O que pude retirar de lição dessas vivências foi que também em textos é preciso respeitar a alteridade do autor e que, embora frequentemente achemos que a nossa é a melhor, existem sempre variadas formas de se dizer a mesma coisa. Ah! Aprendi ainda que essa característica de conseguir respeitar a alteridade do texto é essencial a todos aqueles que se pretendem professores.

    No entanto, acredito que caiba considerar também o que a própria Kehl escreveu um dia: "O texto bem escrito liberta porque não oprime além do necessário aquele que se encoraja a atravessar o umbral que separa as ideias feitas para o uso cotidiano e as da investigação científica, filosófica, poética." E como já dizia Telmo Martino em uma frase que adoro: "Tudo que é fácil de ler é difícil de escrever - e vice-versa". Considero que a Kehl é um pouco dura com os autores que escrevem difícil no texto de onde tirei essa citação, principalmente com os autores da linha teórica a qual ela se dedica. Devo admitir que o puxão de orelha a alguns teóricos em psicanálise é de fato necessário, por vezes tenho a impressão de que eles escrevem com um 'propósito analítico', dito de outra forma, para produzir angústia e assim incentivar a elaboração, o que acho uma estratégia válida e interessante em ALGUNS momentos, mas que em outros possui mais efeitos deletérios do que qualquer outra coisa. Estou apenas começando o meu processo de escrita no meio acadêmico, nem sei ainda se aí irei permanecer ou não. Mas tento elaborar minha escrita da maneira mais clara possível, o que não é fácil, mas essencial a todos aqueles que desejam produzir conhecimento com finalidades políticas específicas, isto é, que rejeitam o ideal de neutralidade científica, tal como tenho aprendido com o meu atual orientador. Chego a pensar que, para os acadêmicos de modo geral, realizar o esforço de escrever da forma mais clara possível deveria mesmo ser considerado um compromisso ético para com a sociedade.

    Deus! O comentário já está enorme xD Sorry! Então pra terminar citarei a frase do teórico que parece contestar o Bauman (digo parece porque li muito pouco a respeito, deixo a frase mais para fazer pensar mesmo). Na contemporaneidade "[...] os indivíduos querem, ao mesmo tempo, ter asas e criar raízes [...]." - François de Singly. E um comentário final: por ora não tenho nenhuma palestra para indicar, mas sobre a obrigação que por vezes nos impomos de terminar de ler tudo o que começamos, indico uma crônica do Drummond que li por esses dias chama-se "Sondagem" e está no livro "A bolsa e a vida". Se não encontrar na internet, depois levo o livro pra vc ler. Bj, Bárbara! Até mais ^^

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    1. Não sou a pessoa certa para reclamar de comentários grandes porque meus posts não são exatamente sucintos... mas, mesmo que fossem, um sorriso de satisfação é o que me arranca um comentário desse porte e dessa envergadura, Mari! Sempre que você fala sobre escrita e literatura meio que imagino os seus olhos brilhando e me lembro de seu desempenho em raciocínio verbal, é inevitável! hahaha

      Suas ponderações foram muito pertinentes, muito obrigada!

      Em relação a respeitar a alteridade do texto: fantástico. Acho engraçado você trazer essa reflexão porque aqui a gente entra na institucionalização da escrita... veja bem, eu disse no texto que tenho facilidade para respeitar a alteridade de autores, ou seja, eu pego um livro ou um artigo e respeito a alteridade.

      Mas em algo menos institucionalizado, como textos de colegas, eu tinha o mesmo hábito que você, então não respeitava da mesma forma... quanta arrogância, não? xD
      Compartilho do seu respeito à alteridade do coleguinha... e isso traz mais harmonia, paz de espírito e menos olheiras para nós!

      As frases da Maria Rita Kehl e do Telmo Martino: MARAVILHOSAS, obrigada!

      Estou aceitando o convite para a reflexão. Obrigada pela sugestão!

      Beijão! :D

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  2. Hahaha lembrando outra palestra do Karnal, os livros foram de fato uma grande invenção! ^^ Com certeza ainda teremos muitas conversas literárias e não literárias também rs

    Ah, sem dúvida! Isso de respeitar a alteridade é algo que exige trabalho constante.

    Que bom que gostou das frases e sugestões =D Ainda não assisti as palestras desse post, mas vou assisti-las depois e aproveitar pra experimentar sua dica de ouvi-las enquanto faço algo mecânico haha dica bem geminiana essa, diga-se de passagem, e que pode facilitar a minha vida xD

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