Para falar a verdade, eu nem queria escrever hoje. Não porque tenho coisas e mais coisas para fazer; eu poderia perfeitamente vir postar ao menos hoje, mas estava sem vontade.
Questionei-me sobre o futuro deste blog. Desvalorizei meus desabafos e as brincadeiras que aqui me permito fazer, esse relativamente ousado exercício contra a minha timidez de anos. Já postei de bom humor e de mau humor, mas hoje não sinto nenhum dos dois - na verdade, sinto um distanciamento. Um distanciamento lacônico por fora e que atravessa mil léguas submarinas por dentro. Sinto como se regredisse. Sinto uma espécie de não sentir gelado que está mais para a figura do ermitão do que do melancólico.
Sinto também como se nunca tivesse mudado, na verdade. Em uma disciplina da área cognitiva, aprendemos que traços de personalidade, no geral, não mudam; na realidade, quando não são considerados adaptativos, desenvolvemos estratégias para lidar com eles, mas estão lá, cada vez mais estáveis. Aliás, mudam, mas muito pouco, longe daquele romantismo do "recomeçar". Por exemplo, se você é aquela pessoa que não gosta de arrumar a própria cama, você tende a ser sempre assim; pode até desenvolver estratégias e caminhos mentais para se habituar a arrumar a cama sem que isso seja muito aversivo, mas a sua tendência sempre vai ser a de não arrumar - e a chance de você mudar isso totalmente é muito pequena. Entendem? Não é como se você transformasse isso num hábito até ser natural como se sempre tivesse sido - é uma estratégia para controlar uma tendência que você julga ruim, mas que vive em você.
Bom, arrumar a cama é uma ação isolada, por isso essa lógica não se aplica nesse caso, falei mais para facilitar a compreensão. Esses aspectos difíceis de mudar são muito mais gerais e profundos; substituam o "arrumar a cama" por uma característica geral de personalidade como responsabilidade, agradabilidade, introversão... bem mais complexo, não é?