domingo, 1 de setembro de 2013

Jogos Vorazes II: Em Chamas (o livro!)


É fato que eu sou dotada de uma sensatez sem precedentes. É mais ou menos assim: eu preciso ler textos e resolver exercícios das disciplinas da faculdade, estou procurando ler livros recomendados pelos professores e ainda preciso estudar um curso à parte que faço, além de trabalhar.

Comprei uma penca de livros no começo do ano, conforme postei, e não consegui terminar nenhum - mas estou lendo todos ao mesmo tempo.

Recentemente, além dos textos de faculdade, tenho me concentrado em "Fundamentos de Filosofia", do Manuel Garcia Morente, em "O Futuro de uma ilusão", de Freud e no meu querido "Fahrenheit 451" (que, por mais curto e maravilhoso que seja, não consegui terminar ainda).

Então eu pensei: com tantos livros complexos e filosóficos para ler, textos acadêmicos para grifar e coisas para fazer, eu preciso de algo.

Algo como comprar um livro de aventura/fantasia que me faça enfiar a cara nele para todo o sempre e passar o dia lendo.

Então, com a sensatez de um elefante com ataque de pânico, eu comprei "Em Chamas", que procede "Jogos Vorazes". Verdade seja dita: eu queria ter comprado o primeiro da trilogia, mas não havia na faculdade.

Era exatamente disso que eu precisava: um vício. Mais uma coisa para fazer, no meio de tantas

Comprei quinta e terminei de ler hoje, no domingo, e vou comprar o primeiro e o terceiro amanhã. Inclusive reservei na loja!

Para quem estiver mais perdido do que cego em tiroteio:
Livro 1 - Jogos Vorazes (falei sobre o filme aqui);
Livro 2 - Em Chamas;
Livro 3 - A Esperança.


Logo terei uma coleção igual a essa, em questão de horas.

Eu deveria ter "A Esperança" em mãos, mas a sensatez foi minha amiga pelo menos ao me aconselhar a não comprar tudo de uma vez, ou eu teria passado o restante da folga no domingo lendo a mesma saga.

O que não seria ruim, mas eu nem viria para cá, por exemplo, escrever um post.

É bom absorver a história e ficar em abstinência por algum tempo.

Eu não tenho muito a acrescentar sobre o que vi e li até agora porque o  primeiro filme transmitiu o universo da história com muita fidelidade em relação ao livro; eu consegui imaginar cada ator em seu devido personagem, e isso não é fácil quando você trava uma batalha há anos entre livros e filmes.

Quero dizer, eu acompanhei toda a saga Harry Potter e, para mim, Harry, Rony e Hermione nunca corresponderão aos atores.

Especialmente em relação à Hermione - a Emma Watson, linda e maravilhosa, era tudo, até ela mesma, só não era a Hermione.

E não é implicância minha, gente. Os trejeitos, as caretas, nada ali era a Hermione. Desde o terceiro filme, deixou de ser, a Emma Watson forçou a barra na interpretação.


Ela é linda, mas todo fã sabe que somente alguém com a personalidade do HARRY poderia improvisar uma fuga do Gringotes montado em um dragão.

Essa foto dela, aliás, é perfeita para aquelas montagens ridículas que volta e meia encontro no facebook.



Antes que me acusem de algum tipo de preconceito, porque, né?, gente que não sabe interpretar é o que mais há, vou explicar:

Cada vez que você, cara pessoa que acha o supra-sumo da maravilha frases sobre como você é foda, independente emocionalmente, detentora da verdade, todas inseridas nessas imagens lindas de revistas e filmes hollywoodianos que usam um jogo de luz e photoshop com uma perícia que você gostaria de ter - mas que, na falta desse conhecimento, acaba apelando para o contraste na foto usada no profile até seu rosto se tornar irreconhecível (ironicamente, só então você acha ele bonito, quando está irreconhecível) -, você é quem dissemina um tipo de preconceituo sutil, um etnocentrismo diluído em nossa sociedade.

Um tipo de preconceito que se volta contra você mesma.

Um tipo de pensamento que faz parecer que somente esse padrão étnico, econômico e social é realmente dotado de todas essas "qualidades" que você gostaria de ter, e não tem - porque, se tivesse, não haveria a necessidade de compartilhar essas coisas, não é mesmo?

Eu coleciono um monte de imagens fofas e variadas; normalmente poderia escrever um tratado sobre padrões de beleza e de pensamento vigentes em nossa sociedade e presentes em cada uma delas, mas me dou apenas a permissão de continuar adorando esses itens, contanto que os adorar não me faça atropelar minha auto-estima.

Porque uma coisa é você achar bonita uma moça branca, de traços delicados, cabelos sedosos e corpo alto e magro; outra é não aceitar o fato de você não ser assim e ainda tentar convencer o mundo de que está de bem consigo mesma.

Mas, retornando:

Apesar de linda, a Emma foi uma péssima Hermione e agora vou levantar o escuro antipedras, e eu gostaria de saber por que o roteirista achou uma boa idéia descaracterizar Harry e Hermione nos filmes. Mas, tudo bem: os filmes acabaram, e o sofrimento também.

Eu sei que ver um filme antes do livro ajuda você a imaginar o personagem tal qual o ator, mas não significa que isso aconteça realmente; mesmo tendo praticamente crescido com o filme "Jurassic Park", quando eu li a versão original, de Michael Crichton, eu não imaginei o Sam Neill na pele do Dr. Grant - e olha que ele foi um ótimo ator! Mas como o Spielberg & Cia apelaram para uma descaracterização básica do personagem na versão cinematográfica, acabei associando o personagem do livro a uma outra imagem, concebida por mim.

Já a Jennifer Lawrence, para mim, é a perfeita Katniss. Melhor que as ilustrações que vejo na internet.


Melhor que esta, por exemplo. Não fosse a roupa e o cabelo castanho, esse rostinho angelical seria uma representação perfeita da Prim Everdeen.

Peeta, Gale, Haymitch, Prim, Cinna, Snow, todos ficaram excelentes. Absolutamente todos.

O que o livro transmite de novo em relação ao filme é a profundidade. Há detalhes acerca do cotidiano que não são explicados na versão cinematográfica, e a Katniss não é exatamente a personagem mais tagarela da história, então no filme ela parece passar a maior parte do tempo quieta, sobrevivendo e mostrando seu diferencial em atitudes cheias de coragem e falas inseridas em ótimo timing. Já o livro é todinho dentro da mente da garota, que é espetacular.

O cenário é riquíssimo, e a fidelidade que o filme tentou passar foi linda - e sim, é inevitável comparar as mídias livro e filme. Você percebe que acaba imaginando toda a história enquanto lê o livro, mas que a base de modelagem usada na sua imaginação é o cenário do próprio filme. Ou seja: eu imaginei componentes do livro com base em algumas amostras do filme.

Suzanne Collins teve a manha ao conceber um cenário pós-apocalíptico e trágico como um país em guerra, usando como ingredientes miséria x extravagância, instinto de sobrevivência x alienação; teve ainda a manha ao colocar uma personagem tão adorável quanto Katniss que, exatamente como a Olivia Dunham (de Fringe, falei sobre ela aqui), é forte mas frágil ao mesmo tempo; ela é resistente, ela pensa, raciocina, mas também chora, perde o controle. A peteca às vezes cai.

E o triângulo amoroso da história ficou muito interessante. Não é aquela coisa irritante porém compreensível que eu vi na Saga Crepúsculo, aquela coisa "sou totalmente chata, dependente e sem sal, mas um lobisomem lindo e cheiroso me ama e um vampiro que é um perfeito príncipe também, ai, Meu Deus, e agora? Quem eu amo mais? E o que será de quem eu amo menos?"


Eu queria tanto salvar o mundo, mas o vampiro gato, o lobisomem musculoso e todos os nossos inimigos malvados têm superpoderes e correm na velocidade da luz! Sacanagem.


Edward Cullen não é um Cavaleiro do Zodíaco,  mas corre, fala e luta em uma velocidade que humanos não conseguem ver.

E grita na velocidade da luz também.

Em Hunger Games, a coisa está mais para: "eu precisei fingir que amo um cara para sobreviver e ajudá-lo a sobreviver também, e fingi tão bem, e nos unimos tanto que eu não sei o que sinto, porque gosto também do meu melhor amigo; nunca quis me casar, mas preciso continuar a forjar um romance se quiser que todos saiamos vivos dessa encrenca que arrumei para sobreviver a regras que não foram criadas por mim. Talvez escolher um dos dois não seja o que está em jogo no momento, porque quero que eles sobrevivam, assim como quero que minha irmã e minha mãe sobrevivam."


Eu até pensaria em casamento e faria uma lista de convidados, mas não tenho certeza se todos estaremos vivos até lá.

Genial colocar um triângulo amoroso juvenil usando a luta pela sobrevivência como pano de fundo. É aquela fórmula mágica de pegar querelas e trivialidades que a nós são cotidianas e dar a elas, no enredo, a máxima importância. Um triângulo amoroso não é apenas um triângulo adolescente, mas um triângulo formado por jovens guerreiros que aprenderam desde cedo o lado cruel da vida. Um lado que era reservado aos habitantes de seu distrito.

De repente, a minha colher de brigadeiro, prosaica para o mundo e deliciosa para mim, torna-se também importante para o mundo e resulta em acontecimentos decisivos para a história de um povo.

Egocêntrico e, por isso, viciante.

Como eu sou uma pessoa caótica, compulsiva e sonhadora, eu só poderia viciar num negócio desses.

Um cenário em que ficar rico tem um alto preço, lamber uma colher de brigadeiro envolve uma intricada série de decisões e usar roupas estilosas é uma atitude carregada de significados.

O egocentrismo da história, intensificado pela narração em primeira pessoa, seria irritante se não fosse a criação de uma trama convincente. Porque, ao contrário da rasa elaboração feita em Crepúsculo (inevitável comparar), a trama de Hunger Games foi toda elaborada para a Katniss não ser a peça-chave do jogo. As decisões dela são importantes para definir o destino do mundo, mas não são as mais importantes - ele não gira em torno dela. É como se a existência dela fosse um resultado probabilístico do que poderia acontecer num cenário daqueles.

Deixe-me explicar melhor: qual foi o primeiro motivo que desviou o caminho da Bella de seu curso natural, fazendo-a conhecer Edward e todo o mundo de vampiros e lobisomens? O interesse que ela despertou nele; como ele era telepata, ele conseguia ler a mente de todos, inclusive vampiros, mas, por alguma razão, algo na genética dela, ele não conseguia ler seus pensamentos. Foi assim que ela chamou a atenção dele, para começar.

Foi um bom motivo, convincente até, mas foi um motivo passivo; Bella não precisou fazer absolutamente nada para ocupar esse espaço diferenciado que é conhecer, na condição humana, a existência do outro mundo. Ela só precisou nascer na condição de uma pessoa cujos pensamentos não podiam ser lidos por um vampiro "vegetariano" telepata. Claro que o fato de ela ser toda deslocadinha do meio natural fez com que o nosso querido vampiro se apaixonasse por ela, claro, mas percebem como a força que iniciou esse movimento foi passiva da parte dela?

Agora voltemos para Katniss e os Jogos Vorazes:

Pensem comigo: um mundo com diferenças sociais gritantes, com um Estado totalitário ainda por cima, e a obrigação política que cada distrito pobre possui de ceder os próprios jovens para um jogo sangrento em que haverá apenas um vencedor. Pensem em pessoas que crescem familiarizadas com a fome e com a possibilidade de participar ou de ver os filhos participarem de um campeonato sangrento. O terror da "colheira" de jogadores, ano após ano. Miséria.

Em algum momento, uma pessoa diferente venceria. Uma pessoa que poderia colocar todo o sistema a perder. Que teria crescido forte devido às adversidades e soubesse lidar com elas. O sistema opressor tê-la-ia formado. Entendem? Essa pessoa acabaria sendo formada por esse sistema opressor. Essa pessoa representaria a fênix - ou o tordo.

Aconteceu de essa pessoa ser a Katniss e nós sermos apresentados à história dela.

Lembrando que o diferencial dela, o que a marcou como a esperança desse cenário, foi uma escolha dela; uma escolha heróica, mas humana, algo ao alcance de nós, pessoas comuns: o que a tornou um tributo diferente dos outros foi justamente o fato de ter se candidatado aos Jogos Vorazes para substituir a irmã caçula, que fora sorteada. Foi um sacrifício.

Ou seja, não foi nada mágico ou surreal, muito menos passivo; ela se diferenciou por uma atitude tomada diante de uma adversidade, que foi o fato de a caçula ter sido sorteada na colheita para os tais Jogos. Katniss não chama a atenção por ter nascido com uma mente bloqueada à telepatia; ela chama a atenção por algo ativo, uma atitude que reflete sua personalidade forte e protetora e, ao mesmo tempo, humana e comum a nós de proteger nossos entes queridos.




Ou seja: o livro consegue transmitir a história desse ângulo, então o toque egocêntrico some, mesmo em uma narrativa em primeira pessoa. Ela não é a pessoa "sortuda", ela é a pessoa que age, que constrói o próprio destino. E suas atitudes atraem simpatizantes; e assim sua força aumenta.


Katniss Everdeen é, de fato, uma heroína.

Você vê os absurdos que ela narra e não se surpreende com as decisões dela. Com a personalidade forte dela.

Com a necessidade de algo mudar.

É lindo isso.

Entrementes, "Em Chamas"("Catching Fire") está em cartaz, e preciso vê-lo; encontrei algumas fotos na internet e não entendia certos detalhes até ler o livro todo. Como estou ansiosa para vê-lo assim como pretendo ler o terceiro livro, eu me contento em olhar algumas imagens:


A septuagésima quinta edição de Jogos Vorazes: o Massacre Quaternário.


O legal do filme é que nós somos apresentados a certas cenas que não são mostradas em primeira mão nos livros, como esta, e por motivos óbvios: Katniss é a narradora da história e não é onipresente.

Eu definitivamente não imaginava esse cara desse jeito, mas a descrição até que bate com a do livro.

Essa ficou mais legal do que eu imaginava.

Recomendo a série!

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