quarta-feira, 3 de setembro de 2014

Compulsão rumo ao caos: máquinas de escrever


O título já diz tudo. É um capricho de meses e até anos que vem ganhando força nos últimos tempos e não sei se irá se tornar realidade.

Conversei sobre isso com pessoas amigas há uma semana, mas aí vieram, em fila indiana, uma viagem para Sampa, duas provas e mais trabalhos, de modo que essa idéia simplesmente saiu da minha cabeça. Concluí que era apenas uma idéia, um capricho, e que eu precisava me concentrar em coisas mais importantes.

Mas aí aconteceu o que eu não esperava que acontecesse: logo eu, a apaixonada por mapas, estava voltando para casa após uma curta manhã de provas. Estava tudo bem, eu estava em uma rua comercial e movimentada que, apesar de comprida, era bastante conhecida - só precisava terminar de percorrê-la para entrar no bairro onde moro, porém ela é muito comprida para ser percorrida a pé a menos que você tenha um dia livre para fazer isso. Só que o dia não era propício para tão longo momento de lazer, então fui caçando um ponto de ônibus para terminar de percorrê-la, só que, em vez de caminhar no sentido do meu bairro, fui no sentido oposto! E peguei um ônibus que, apesar da linha correta, estava também indo para o sentido oposto, me levando para longe do meu bairro.

É que, para começar, eu não entrei nessa rua gigante pelo comecinho - fui deixada pela minha carona no meio dela, de modo que não via o final ou o começo para me orientar. E, como sou distraída, escolhi qualquer um dos lados para seguir - e segui pelo lado errado.

Enfim, desci do ônibus ao perceber o erro e voltei a pé para essa mesma rua, e estava rindo e me sentindo a pessoa mais distraída e boba da face da Terra - como poderia ter errado desse jeito?

Eu contei toda essa constrangedora história para indicar um detalhe que eu não teria acessado nessa viagem se não fosse o erro descabido que cometi.

O negócio é que, nessa rua, principalmente no comecinho dela, há muitas lojas de roupas e, como acontece quando não tenho dinheiro para gastar ou quando o vitrinista não é muito bom de serviço, fui ignorando uma a uma - nenhuma me atraía.

Até que, na vitrine de uma delas - uma loja particularmente bonita -, havia, mais bonito que as próprias roupas, um conjunto de itens retrô: alguns rolos de tecido, uma máquina de costurar velha, delicada e reluzente e... uma máquina de escrever. Tão velha e bonita quanto.

Eu fiquei hipnotizada. Não é sempre que vejo uma assim, não desde os meus nove anos, não desde que os computadores tornaram-se baratos o suficiente para muitos usarem e empurrarem as ultrapassadas máquinas ao anonimato. Não desde que meu pai abandonou a máquina manual dele e foi para o computador, ávido por praticidade que é.

Eu tinha visto fotos de muitos tipos, conversado e me aconselhado sobre máquinas com quem as possuía e com quem não as possuía, lido sobre a tecnologia, mas esquecido tão repentinamente ao longo do cotidiano que foi o susto mais agradável dos últimos tempos vê-la, em carne e osso, exposta na minha frente, como se estivesse em um museu.

E eu adoro museus.

Diante da distinta vitrine, sorri como sempre faço quando estou sozinha - já vi uma menina sorrindo sozinha, e eu teria achado essa atitude estranhamente retardada se não me identificasse absurdamente com ela - e fiquei maravilhada. Nem sabia se era manual, elétrica ou eletrônica. Acho que era elétrica, era uma mistura de tecnologia - nem tão antiga quanto a do papai, nem tão moderna como aquelas eletrônicas que parecem um computador velho. Era um meio-termo, pequena, plana, azul-petróleo e delicada. Com um teclado arredondado. Linda.

Parecia pedir a introdução de um papel em branco e muitas palavras pensadas.

Sem pensar, sem raciocinar, entrei na loja e perguntei: "ela está à venda ou é só enfeite?"

Era só enfeite.

Achei que a pessoa proprietária dessa loja tinha um excelente gosto.

Um gosto que não estava à venda.

Mas que gerou uma ocorrência que não saiu de meus pensamentos. 

Olha, não vou ficar piegas demais falando coisas açucaradas sobre sinais do destino que vêm para reiterar nossos sonhos e tals, até porque de açucarada já estava a panqueca com chocolate que fiz hoje. Mas também não vou negar que sou uma sonhadora, e que por isso acredito nessas coisas de "sinais".

Mas não foi nisso que fiquei pensando. Não foi com uma fé arrebatadora de pensar que aquilo era um sinal enviado pelos céus de que eu precisava realizar aquele sonho. Era mais um "poxa, que surpresa, deixe-me pensar novamente no meu capricho". E lá fui eu.

E nem é porque está na moda - pelo menos, não conscientemente. Sabe aquela galerinha que chamo de hipster? Que gosta de coisas vintage, que parecem uns idosos sem rugas, tomando café, falando formalmente, usando suéteres cáqui e sapatos fechados, vivendo reclusos em lugares discretos e gostando de coisa velha?

Então. Eles gostam de escrever em máquina velha também. Os hipsters de alto nível, que não ligam muito para a Apple.

Será que a Apple lançou uma máquina de escrever para essa galera?

Nem preciso dizer que estou brincando; até porque normalmente quem gosta de escrever - qualquer pessoa, sem ser hipster - gosta de coisa velha. Nem todo o mundo é assim, mas eu sei que a maioria gosta, sei que a maioria se sente seduzida pela velha tecnologia da escrita, como uma máquina manual, papel, caneta ou mesmo entrando no DOS. Em relação à máquina, existe um certo prazer em ver a si mesmo produzindo algo ali, no duro, ao vivo. Não é algo que outra pessoa apreciaria, mas só você, o teclado e o papel. Você veria sua própria produção, e sem intervenções ou distrações das novas tecnologias. E, mais do que isso, como disse um cara quando perguntado sobre a preferência pelas máquinas de escrever: "no computador, pode-se escrever sem pensar. Na máquina, é preciso pensar para se escrever."

Não sei se pensar para escrever em vez de escrever para pensar me define - já penso demais, sabe? -, contudo achei poética essa proposta.

E andei pesquisando. Assim, de leve, como quem não quer nada, mas que tá querendo muito.

Contei para um amigo particularmente crítico, o Alex, mas que é um grande sonhador e uma das pessoas mais criativas que conheço. Ele achou válida a idéia de comprar uma máquina e uma ótima forma de produzir histórias sem sofrer grandes distrações.

Por distrações, leia-se: internet.

Sim, máquinas de escrever são para os fracos seduzidos pelas distrações. Mas não seria a distração a mãe da criatividade?



Bom, para começar, existem três tipos de máquinas, basicamente: manuais, elétricas e eletrônicas. Elas variam em muitos aspectos, sendo que as mais modernas não machucam tanto os dedos e oferecem uma série de opções como fontes diferentes, opção em negrito e corretivo. Nem sei como isso tudo funciona fora de um computador, apenas tenho teorias.

Quando eu era criança, eu brincava na máquina do meu pai. Lembro que fui aprendendo certas coisas sozinha, descobrindo a máquina - por vezes, a mãe ajudava. Mas eu descobria muita coisa a respeito sozinha. Não é difícil situar esse fato em um contexto propício - uma época sem internet, em que a televisão tinha canais limitados e era um tédio sem fim - e a mãe não deixava ver muita coisa na TV, a programação infantil era escassa. Uma época em que eu morava em uma rua movimentada demais para brincar nela, de modo que meu irmão e eu ficávamos em casa, nas férias, sem viajar. Acho que é fácil imaginar como os livros entraram em minha vida, bem como os desenhos e as histórias que eu montava, e como tudo isso culminou em minhas investigações silenciosas na máquina de escrever do papai. Era uma ótima época (leia-se: cheia de tempo livre) para se brincar na máquina, e só não brinquei mais porque meu pai comprou um computador, onde escrevi meu primeiro livro grande.

Porque o pequeno, com quatro frases, escrevi à máquina. Em um pedaço de papel mal-rasgado vindo de um bloco de notas velho.

Bom, fica a obsessão de uma caótica e compulsiva: comprar ou não uma máquina para escrever histórias?

2 comentários:

  1. Eu tambem amo coisinhas vintage,velharias,museus..sou apaixonada de verdade.Eu tenho uma maquina de escrever cor de rosa e apesar de funcionar super bem eu a uso apenas como decoracao mesmo.Fica lindo e da um ar super retrô ao quarto.Além da maquina de escrever eu tambem tenho uma vitrolinha e uma polaroid rs(nao disse que amo velharias rs?).A polaroid eu até uso as vezes,mas a maquina de escrever e a vitrola ficam apenas como enfeite.Se vc puder e tiver a chance de comprar uma,compre-a!!Vc nao vai se arrepender :)
    Bjs!

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    1. Gente, que coisa FOFA!!! Adorei, Bia, imagino a fofura do seu quarto. Nada como velharias!!! <3 Aceito fotos como inspiração para decoração! hahahaha

      Vou levar o seu conselho com carinho, fiquei animada. :D

      Beijos!

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