quarta-feira, 20 de agosto de 2014

Dos vãos empoeirados da memória...

"Vãos empoeirados da memória"... li essa expressão há alguns anos numa versão infantil da história de Arthur chamada "O Rei Artur e os Cavaleiros da Távola Redonda", da Companhia das Letrinhas. É uma expressão universal, não acham?

Ela realmente traduz o que sentimos quando uma lembrança muito antiga reaparece. Pois bem, por falar nessas lembranças empilhadinhas em vãos obscuros e empoeirados do labirinto da mente, eu mantive na memória um poema por doze aninhos, que decorei sabe-se lá por quê. Devo ter achado importante.

É um soneto de Shakespeare.


Pobre alma, centro de meu barro pecador,
A suas forças rebeldes, presas e atribuladas,
Por que aí dentro tu definhas em langor,
Pintando tão caro tua vistosa fachada?
Por que, em tão curto aluguel, tanto dinheiro,
Gastas com esta sua decrépita mansão,
Se o verme, de todos esses luxos herdeiro,
Vai devorá-lo? É o fim de teu corpo, não?
Das perdas de teu servo, ó alma, vive agora,
E deixa-o definhar para aumentar tua fortuna,
Compra a eternidade vendendo horas de escória,
Por dentro alimentada, por fora à penetra:
Se te nutres da morte que traga os mortais,
Morte à morte, ninguém morrerá jamais.


A bela epifania de uma poesia está, muitas vezes, na emoção que sua entonação representa. Então deixemos que essa emoção vagueie pela memória, encontrando nela sua razão. :)

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