domingo, 5 de janeiro de 2014

Amor de chuva!



Quando o céu escurece e adquire aquele tom acinzentado bastante peculiar, anunciando chuva, meu coração pára e eu inspiro profunda e atentamente, à procura daquele "cheiro" de umidade. Eu aguardo, calmamente, aquele ruído e aquele cheiro acolhedores da natureza, que vem limpando tudo.

É como um chamado ancestral que vem para renovar as esperanças. Sinto como se ela me limpasse, mesmo eu estando completamente seca e a salvo, sob um teto, assistindo a seu espetáculo.




No dia-a-dia, fora de casa, ela também me surpreende. Porque não quero ficar encharcada, eu bem tento fugir; quando não consigo, paro e desisto, e aproveito aquela sensação enquanto caminho pela rua, parecendo uma louca ensopada e sorridente.

Mesmo que chegue ao trabalho ou à escola encharcada até os pés. Se não consegui evitar que acontecesse, é a vida.

(Por isso é sempre bom ter uma roupinha extra para aqueles dias ameaçadores)

Deixando de lado esses aspectos da vida moderna, seja por condicionamento, seja por um sentimento ancestral, eu sempre sinto paz e aconchego quando a chuva vem. Eu aprecio seus tons acinzentados, seu ruído constante (por vezes, em coro com trovões), seu ritmo, sua música. É como um alimento para a alma, que renova e acalenta.

Por isso acesso freqüentemente este conhecido site, que inclusive já acessei em um dia nublado, quando ainda não estava chovendo. Porque "rain makes everything better."


Cai chuva do céu cinzento
Que não tem razão de ser.
Até o meu pensamento
Tem chuva nele a escorrer.

Tenho uma grande tristeza
Acrescentada à que sinto.
Quero dizer-ma mas pesa
O quanto comigo minto.

Porque verdadeiramente
Não sei se estou triste ou não.
E a chuva cai levemente
(Porque Verlaine consente)
Dentro do meu coração.

Fernando Pessoa, 15-11-1930.

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