sexta-feira, 11 de julho de 2014

O vácuo dos multiversos



Um momento de epifania.

Epifania é uma coisa engraçada. É como se você entendesse de corpo, mente, coração e alma um determinado conceito - é uma compreensão simultânea, como o chute (kick) simultâneo que a galera de Inception organizou para conseguir despertar das diversas camadas de sonho.

É como se tudo funcionasse de forma caótica em nós mesmos, um labirinto de várias dimensões e, então, em meio a tantas conjunções e terminações sinápticas e existências espirituais, todos os caminhos se cruzam, resultando em um clique - e o clique é um salto.

A epifania de hoje foi em relação ao abismo entre multiversos.




Pois bem, parafraseando Chico Xavier no Livro Verde"Em geral, pensamos que os nossos amigos pensam como pensamos, no entanto precisamos reconhecer que os pensamentos deles são criações originais deles próprios".

Ou seja, todos possuímos universos particulares e compartilhamos um que denominamos realidade, e estaremos mais próximos ou distantes dessa realidade à medida que conseguimos dialogar com o outro. Para simplificar.

Para a Análise do Comportamento, nossos sentimentos são nossos, mas nós aprendemos socialmente a denominá-los. Eu posso ter a sensação de que o coração está comprimido no peito e chamar do que a sociedade diz ser angústia, dado o fato de que pessoas parecem sentir algo parecido - nunca saberemos se é o mesmo. Mas é parecido, e conversamos a partir disso.

A epifania que me bateu foi em relação a esses conceitos, e especialmente a conceitos de espiritualidade. Eu sempre soube que a espiritualidade é única para cada um de nós - daí o fato de eu não seguir religião alguma -, mas agora isso me bateu com toda a força da Terra quando vi algumas pessoas, usando os mesmos termos que utilizo e em um discurso parecido, defenderem uma idéia oposta à minha. Isso me trouxe a dimensão de como, mesmo aprendendo os mesmos termos e conceitos semelhantes, o universo de cada um é distinto, e o que queremos dizer é, muitas vezes, totalmente diferente, mesmo usando os mesmos termos.

Minha forma de raciocinar sempre foi concordante, e não dissonante, e essa é a minha principal "crise". Embora eu seja capaz de aprender conceitos por meio da diferenciação, eu procuro conciliar eventos, e não contradizê-los, e isso me ajuda muito, por exemplo, a tirar notas nas provas - eu não faço esse tipo de confusão. Eu não acho que uma afirmação tem que necessariamente anular a outra, e isso me faz ter uma compreensão que parcialmente considero boa em nuances. Procure entender nuances e explicá-las.

Só que, agora, a epifania partiu para o sentido oposto. Enquanto eu baseio minha lógica em conciliação de termos diferentes, agora penso no paradigma do uso dos mesmos termos para idéias distintas. Nenhuma dessas idéias distintas está errada, mas podemos cair na ilusão de estar falando a mesma coisa quando, talvez, não estejamos. E aqui não falo de uma diferença mínima, e sim de algo que muda todos os conceitos. Como, por exemplo, usar o mesmo caminho de termos e conceitos para justificar idéias quase opostas.

Eu não tenho esperança que alguém vivencie essa compreensão como acabo de vivenciar, porque nossos multiversos são distintos demais, mas precisava registrar isso. E, se você um dia sentir algo parecido em relação a qualquer outra idéia, talvez estejamos falando a mesma língua, mesmo que falemos de coisas diferentes.

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