domingo, 27 de julho de 2014

... E as aparências não enganam, não.



Há coisas que outras pessoas parecem saber, mas que só entendemos com direito a epifania muito tempo depois.

Foi o que aconteceu comigo nos últimos dias ao ouvir pela trigésima oitava vez "Como Os Nossos Pais", do Belchior e com maravilhosa interpretação de Elis Regina. Eu não tinha parado para sentir o significado da letra:

Minha dor é perceber 

Que apesar de termos 

Feito tudo o que fizemos 

Ainda somos os mesmos 

E vivemos 

Ainda somos os mesmos 

E vivemos 
Como os nossos pais...

Nossos ídolos 
Ainda são os mesmos 
E as aparências 
Não enganam não 
Você diz que depois deles 
Não apareceu mais ninguém 
Você pode até dizer 
Que eu tô por fora 
Ou então 
Que eu tô inventando...

Mas é você 
Que ama o passado 
E que não vê 
É você 
Que ama o passado 
E que não vê 
Que o novo sempre vem...


Foi repentino.


"Crianças de sete anos hoje possuem iphone, ipad... eu só tinha sete anos."

"Crianças de doze anos pensam em sexo, eu só pensava em brincar."

"Já não fazem música como antigamente."

"Saudade de Malhação de antigamente."

Mentiras, mentiras e mentiras! Eu ainda tenho contato com algumas pessoas da época de escola, e se eu tenho certeza de uma coisa é que as pessoas não pensavam só em brincar quando tinham doze anos! Assim que entrei para a quinta série (dez para onze anos), a professora dizia "boa tarde, crianças" e muitos a corrigiam: "pré-adolescentes, professora!". E já ficavam. Conheci o verbo "ficar" nessa época.

Não tínhamos iphone, mas com certeza crianças de classe média de 1997 tinham qualquer aparato tecnológico da época. Era a época em que se jogava SNES enquanto os pais suspiravam que, quando crianças, brincavam era na rua, empinando pipa ou rodando pião, e não "na frente da televisão"...

Sou de uma geração que cresceu juntinho com a velocidade da conexão à internet no Brasil.

Isso sem falar nos "nostálgicos musicais", que falam que, a partir dos anos 2000, não se produziu mais rock. E repetimos os discursos de nossos pais...

Não aceitamos o novo. Não aceitamos músicas novas. Elas serão sempre piores que as das décadas anteriores.

Minha geração mal passou dos 20 e a galera anda se portando de forma ainda mais severa que os idosos inseridos na era digital! Criticam jovens que não são nem dez anos mais novos! Mal terminaram a faculdade e se portam como futuros pais, repetindo discursos conservadores em impensados.

E não percebem que, de melhor, nossa época nada tinha que não fosse apenas nostalgia...

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