segunda-feira, 3 de agosto de 2015

Uma música para cada humor!


Hoje embarquei numa leitura de artigos sobre a Teoria Humoral de Hipócrates; estava pensando nisso e com vontade de postar uma lista de músicas, então pensei: por que não juntar as duas coisas?

É claro que é uma brincadeira. Eu não sou nenhuma especialista em Teoria Humoral e nem em Música, mas achei que seria divertido unir esses dois elementos neste post simplesmente porque adoro esses assuntos. Escolhi três músicas para cada tipo de humor baseando-me no meu jeito leigo de interpretar uma música... julguei pelo conjunto da obra, inclusive composição e até mesmo o vídeo de cada uma. Por exemplo, as músicas do "colérico" me parecem mais viscerais (como se elas rasgassem você por dentro, indo láááá no seu âmago e despertando os sentimentos e as paixões mais profundas), enquanto as fleumáticas são leves, doces e estáveis para um lindo dia de sol... as dos sanguíneo são uma vibe mais party, até consigo imaginá-las tocando em uma festa. E as do melancólico possuem expressões e temas reflexivos e são mais calminhas - não tão docinhas quanto as do fleumático, mas mais "maduras" e combinam com um estado retraído e pensativo.

1 - Fleumático ou linfático:


Pelo que entendo (o que é pouco), é o perfil (ou arquétipo) da pessoa que acumula muito líquido, que absorve muito. Ela passa pela vida de um jeito ameno, impassível aos estímulos externos e internos e ao destino, sempre com um estado basal constante e dotado de muita sensatez. É estável e confiável, não aderindo a mudanças por medo, por isso tende a se contentar com trabalhos repetitivos e rotina, encontrando satisfação nisso. E é bem interessante: vivemos uma época em que as pessoas enchem a boca para dizer que detestam rotina, que têm sonhos muito maiores que o próprio bolso e que o trabalho que exercem é um inferno na Terra; pois bem, os doces fleumáticos são os que pegam a coisa para fazer e estão satisfeitos com o presente. Aproveitam os prazeres da vida com leveza, gostando muito de comer e dormir e exercendo os esforços na medida precisa ao executarem seus trabalhos - nada a mais ou a menos. Como possuem esse ritmo estável, tendem a ser pontuais e não arrumam encrenca - vão lá, fazem e pronto, sem estresse.

Quando realizam parceria com pessoas mais ativas, a coisa costuma fluir bem, porque a pessoa fleumática acaba sendo o porto seguro destas e se sente segura para sair um tantinho da rotina - o suficiente para caminhar para frente, ao menos!

É aquela pessoa de boa, que não é passional e nem entusiasmada, mas está sempre leve, tranqüila e solícita - uma ótima conselheira! É mais do fazer do que do criar e tem pouca energia, por isso faz o que tem que ser feito e nem uma gota a mais. Então, do ponto de vista positivo, são pessoas afáveis, confiáveis e estáveis; do negativo, tendem à indolência vulgo preguiça.

Uma palavra-chave, portanto, seria a estabilidade; e um "problema", o medo estagnante. Medo da mudança.

  • Ça ira - Joyce Jonathan;
Joyce Jonathan estourou em 2010, mas só agora a conheci. Ela é toda fofa, a voz é fofa, as músicas são fofas, e não me canso de ouvir essa - que tem tocado no rádio. E este vídeo também é muito fofinho, recomendo!

Escolhi a música justamente porque a visão que tenho do fleumático é de uma pessoa fofa e tranqüila, que fala de amores e valores com doçura e sem excessos.


  • Stay Gold - First Aid Kit;
Já tinha falado aqui dessa dupla que tem (me en)cantado e, para não ficar repetitivo, escolhi desta vez outra música. A temática é bem emotiva, mas a voz dessas irmãs tem um componente equilibrado e o conjunto possui uma vibe folk. Gosto de escutar First Aid Kit para evocar um sentir não tão intenso e que me coloca para cima - com alguma estabilidade.



  • Clementine - Sarah Jaffe.
Navegar pelo youtube é como tentar mergulhar usando uma bóia; eu tento ser caçadora de coisas pioneiras e exóticas que ninguém conhece e fracasso miseravelmente - mas ainda chego lá! Por exemplo, eu estava numa dessas caças ao tesouro e achei ESTA MÚSICA. Embora ela tenha me deixado viciada, não é bem uma peça rara e desconhecida - imagino que todos a conheçam, mesmo que não saibam quem canta.





2 - Sanguíneo:


O perfil sanguíneo tem como característica física marcante a intensidade do fluxo sanguíneo (pessoas coradinhas) e o olhar chamativo, impactante, os famosos olhos vivazes. É um curioso nato e é cheio de energia - parece ligado nos 220V e dotado de molas nos pés. Ao contrário do fleumático, fica caçando novidades e é um questionador; cria mil projetos ao mesmo tempo e tem uma dificuldade imensa em terminá-los, enjoando deles no meio do caminho; está sempre caçando coisas para fazer, mas precisa ter uma vontade muito grande de dar uma passo que seja - é aquela pessoa que TEM que sentir uma MOTIVAÇÃO - e essa motivação é emocional, narcisista, egocêntrica. Algo do tipo "eu me identifico com isso", "ADORO ISSO", "É A MINHA CARA". Na minha opinião, o facebook e as outras mídias sociais têm nos deixado um tanto quanto sanguíneos em termos de temperamento. Isso quando não estamos coléricos, enfiando goela alheia adentro nossas próprias convicções.

O perfil sanguíneo é criativo, é original, revolucionário; está sempre atrás de novidades, foge de rotinas e corre atrás dos sonhos. Por sua criatividade, tem uma mente elaborada, só que se satisfaz quando o caos é externo: por isso, procura avidamente manter suas relações sociais em dia. Adora se sentir estimulado pelo meio externo. Como é curioso e acredita sempre que um novo dia há de raiar (com muitas novidades!), não guarda muito rancor; vive intensamente cada momento, sonha com o futuro, mas não retém as mágoas do passado...

Na realidade, não retém coisa nenhuma, por isso quem tem tendência a se identificar com esse perfil pode prestar atenção nisso - um pouquinho mais de foco poderia equilibrar esse perfil.

Uma palavra-chave seria a expansão; e o "problema", a dispersão.

  • Lay all your love on me - ABBA;
Para mim, sanguíneo é sinônimo de música pop! Justamente pela facilidade com que se envolve na sociedade, sempre cheio de projetos e de amigos.
ABBA é aquele grupo musical antigo que humilha muitos sucessos pop da atualidade devido à potência da voz desses artistas; gente, depois de uma sessão de ABBA, certos ídolos pop recentes não descem. Mal desciam antes; agora é que não descem, mesmo. Ficam tipo "o cavaleiro da triste figura". Sem querer comparar, mas fatalmente comparando...

E dá-lhe autotune para remediar o irremediável.



  • Drunken Sailer - Irish Rovers;
Na minha opinião, nada como um marinheiro bêbado de ressaca no dia seguinte zoado pelos amigos para representar o entusiasmado sanguíneo. Sempre que escuto essa música tenho vontade de sair dançando.



  • Get Lucky - Daft Punk & Pharrell Williams.
Só porque acho muito difícil enjoar dessa música.



3 - Colérico:

Assim como o sanguíneo, o colérico tem muita energia, especialmente para lidar com o mundo, só que essa energia não é extravasada da mesma maneira leve e fluida. Como assim?

O perfil sanguíneo é que nem um furacão; é inquieto, detesta rotina, é curioso e ávido por conhecer o mundo, adquirir conhecimento, disseminar a informação. O colérico também possui essa extroversão toda, mas é mais metódico e focado. Para ele, relacionar-se com as pessoas e adquirir conhecimento não é um fim em si, mas um meio de alcançar um objetivo maior. É ambicioso e altamente competitivo, vendo o mundo como uma arena na qual ele pode se desafiar e desafiar os outros - sempre se comparando aos outros e querendo ficar em primeiro lugar. Não aceita o próprio fracasso e nem o alheio, sendo rígido e exigente.

Inclusive essa sua rigidez e sua capacidade de focar num objetivo possui uma base emocional muito forte. Suas decisões são tomadas de forma precipitada e dificilmente são alteradas - é um conservador nato. É o tipo que vai até o fim sem mudar de idéia. É a pessoa que não está no mundo para se divertir (ao contrário do sanguíneo, por exemplo), mas para vencer, e a energia de que dispõe é canalizada especialmente para atingir suas metas. É o famoso "faz e acontece", por isso o perfil colérico é de um líder. Termina tudo o que começa como o fleumático, porém de forma muito mais passional, intensa. E rancorosa.

Por sinal, o rancor caminha junto com a raiva. É comum as pessoas terem a idéia de que a pessoa que extravasa muito, que mostra demais o que sente, é mais equilibrada e fluida - só que não é bem assim. A raiva é uma emoção que se retroalimenta; quanto mais você a solta, mais você a sente e mais motivos tem para senti-la. O perfil colérico fala muito desse apego; apego às idéias, apego ao orgulho, aos objetivos, às lembranças, às emoções.

Uma palavra-chave para esse perfil seria a paixão; e seu "problema", a cólera.

  • Morgenstern - Rammstein;
Bom, elegi para essa categoria músicas que considero mais "viscerais".

O estilo pesado e industrial de Rammstein, o tipo físico grandalhão e quadradão do Till Lindemann  (e sua voz), a expressão carregada de todos os membros da banda, a letra dessa música e a intensidade dela refletem demais o emocional colérico. É como um mar tempestuoso em uma fenda abissal.



  • Psychoteka - Żywiołak;
Sempre que escuto esta, imagino uma convenção de bruxas malvadas. É assustadora, arrepiante e fascinante ao mesmo tempo, e decididamente inspiradora - ainda tenho que usar essas sensações que ela evoca para alguma coisa. Criar um cenário fantástico, talvez.

Por que está no perfil colérico? Porque ela, com todo o seu jeito exótico dentro do cenário musical "new age/celta" que está em voga, tem essa coisa intensa e arrepiante. Não é calminha e nem nostálgica, embora ela evoque todo um cenário fantástico - é macabra e intensa. Representa a versão macabra de um cenário fantástico, e isso é instigante.

De acordo com o tradutor do google, a pronúncia do nome da banda é "jivíolac" e significa "elemental" em polonês. Faz sentido...




  • Babel - Mumford & Sons;
Para a grande tristeza do namorado, o segundo e tão esperado álbum do M&S foi decepcionante, por isso, para todos os efeitos, ele não existe. Mas, antes de existir o inexistente, o grupo possuía umas músicas, digamos, visceralmente impressionantes. É, em minha humilde opinião, difícil escutá-las sem chorar junto, de tão passionais que são. Maravilhosas! Intensas! É o tipo que você pára o que está fazendo para escutá-las direito - porque elas merecem. São lindas.




4 - Melancólico:

Até agora, falamos do fleumático "quietinho" e dos enérgicos "sanguíneo" e "colérico". Para fechar a brincadeira, entra o melancólico em cena - que também é mais "quietinho". Ou melhor, mais introvertido.

Assim como o fleumático, o melancólico é um perfil com pouca energia para lidar com o mundo externo - só que ele não possui a mesma serenidade basal do fleumático porque tem tendência à depressão, a tal "bile negra". É como se o fleumático tivesse essa coisa de aproveitar cada momento de forma simples, sem excessos, com um "esvaziamento mental" para que tudo funcione. No caso do melancólico, não é assim que ocorre; por fora, está exangüe, mas, por dentro, constantemente fervilhando. A mente sempre a mil, os caminhos mentais tortuosos constantemente explorados, visitados, esmiuçados. Por fora, não tem muita energia; por dentro, há mundos inteiros elaborados ali dentro - é onde as coisas acontecem. Por isso, ao contrário dos fleumáticos, os melancólicos são muito imaginativos - têm o poder de criação dos sanguíneos.

Eles fervilham por dentro e se esvaziam por fora como se vivenciassem um eterno vazio, uma espécie de desamparo que os impede de externalizar aquilo que sentem. Essa ausência de externalização, de diálogo com o mundo, infla o mundo interno da pessoa, desencadeando esse humor melancólico - um humor desamparado e hiper pensativo.

É da natureza melancólica o pensar demais, o exagerar; ele cria situações mirabolantes; por fora, nada de mais acontece e a natureza está neutra, mas tudo lhe é excessivo e até distorcido. Contudo, nenhum desses arroubos mentais é extravasado porque essas sujeitos possuem esse autocontrole - aprenderam a ser assim. Como se, no desamparo, houvessem desistido do mundo e plantassem todas as suas sementes em seu mundo interno. Ou seja, pensam conter uma opinião imparcial sobre a vida porque racionalizam muito; mas, porque se controlam e racionalizam demais, deixando de expressar o que realmente sentem, perdem o diálogo com a realidade, assim seus pensamentos - seu mundo interno - destoam do que realmente há lá fora. E o mundo interno é cheio, portanto, de distorções, exageros e retrações. Assim, ao mesmo tempo em que se julgam mais próximos da verdade por sua racionalização, o modo como se contêm os distanciam dela.

Acho que uma palavra-chave para esse tipo é a reflexão. E um "problema" seria a angústia paralisante.


  • There's a light that never goes out - The Smiths;
Honestamente, é difícil falar em melancolia e música sem pensar nos Smiths! Steven Morrissey, com sua dancinha exótica, fala de apego, perdas, frustrações e morte com uma ironia melancólica, resignada, e sua voz sutil transmite indiferença diante desses grandes temas da vida.



  • Time in a  bottle - Jim Croce;
Ah, gente, essa música é MUITO LINDA! Voltou com tudo após a célebre (sim, célebre) cena do Quicksilver em X-men: Days of Future Past. Na realidade, em minha humilde opinião, foi a cena que fez o filme!

De forma impassível, ela transmite a profundidade que cabe ao humor melancólico.



  • Losing my religion - R.E.M.
Não só tinha que ter R.E.M. como poderia ser esta ou Imitation of Life ou It's The End Of The Worls As We Know It (And I Feel Fine). São todas fantásticas e se encaixam no tema aqui proposto.




Certo, MAIS UM POST que ficou maior do que eu esperava... ah, Sagitário, sempre exagerando em tudo.

Bom, por fim, a cena do Quicksilver para quem não tem muita fé nos filmes X-men e não se deu ao trabalho de ver o filme... ou para quem já viu mais de três vezes e veria de novo com toda a certeza!





E vocês? Identificaram-se com a descrição de algum grupo ou com algum agrupamento musical? Gostam de classificar as  músicas que ouvem de alguma forma?

4 comentários:

  1. Adorei o texto bem como as reflexões que ele suscitou, Bárbara! Se me identifiquei com algum? Bem, como possuímos de fato esses quatro humores, gosto de pensar em termos de intensidade, numa escala daquele mais presente até o menos acentuado. Em suma, em maior ou menor grau me identifiquei com algumas características de cada um deles.
    Muito interessante a associação que vc fez com as músicas. Gostei bastante da Stay Gold - First Aid Kit, da Clementine - Sarah Jaffe e da Babel - Mumford & Sons. Pra mim a mais visceral e que suscitou um cenário fantástico foi a Morgenstern - Rammstein. E acredito que a Losing my religion caiu como um luva para o humor melancólico; nesse sentido, gostaria de indicar a música Soma - The Strokes que pra mim diz muito do humor melancólico (principalmente pela letra e, a meu ver, pela associação do nome da música com a obra de Aldous Huxley), aliás, pra mim grande parte das músicas deles possuem um fundo melancólico. Mas podemos falar mais sobre isso depois. Gostaria de indicar também o vídeo "Daft Punk - Pentatonix" vc encontra no Youtube. Acho uma versão bem legal das músicas do Daft Punk. É isso! Abraços! ^^

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    1. Pentatonix!!! Fantástico, Mari, eles são ótimos e, de fato, já os conhecia também... e você tem razão, o trabalho deles é excelente! Não me canso de ouvir. Mas não conhecia Soma - The Strokes e, REALMENTE, é a versão musical do humor melancólico... tanto no estilo da banda em si quanto na letra. Acho que precisamos conversar sobre Admirável Mundo Novo também! hahahaha
      Ainda sobre as músicas, fico feliz que tenha gostado delas e do post, muito obrigada! ^^
      E obrigada por lembrar que os humores manifestam-se em intensidade e que todos temos todos eles. Inclusive havia esquecido de acrescentar esse detalhe um tanto quanto significativo - foi uma ótima lembrança!

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    2. *Cenário fantástico com Morgenstern*

      Fiquei curiosa! :D

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  2. Sim, sim, The Strokes é de fato uma das minhas bandas preferidas =) As letras deles sempre trazem passagens muito interessantes. Precisamos mesmo conversar sobre Admirável Mundo Novo, já tem algum tempo que venho querendo discutir essa obra com alguém.
    Hahaha pode deixar! Vou me lembrar de comentar com vc sobre o cenário que me veio à mente com Morgenstern xD
    Irei te passar ainda o nome de uma banda e de pelo menos duas músicas que, embora não sejam de todo desconhecidas, representam aquilo que de mais alternativa consigo ser no quesito estilo musical kkkkkkk Tive também uma ideia para um post, comentarei sobre tudo isso numa próxima oportunidade.
    (Lembrei de colocar o endereço do meu tumblr dessa vez, sempre demoro a atualizar, mas dá uma passada lá depois e me diga o que achou ^^)

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