Havia essa pessoa, tão velha quanto a própria consciência, que tinha apenas um objetivo em sua longa vida: guardar algo cuja imensidão ele mesmo desconhecia.
Sua rede era feita de fios trançados, amaciados com linho e seda, e seu entretenimento consistia em investigar livros incompletos de palavras aleatórias que formavam histórias sem fim. Cada livro continha dúzias de histórias, e cabia a ele descobri-las, uma a uma e, por vezes, entretinha-se costurando as histórias já descobertas para decifrar um eventual padrão que as unisse em uma única narrativa.
Esgueirava-se agilmente por sua rede com certa freqüência, firmando os arreios que a prendia firmemente a galhos de procedência desconhecida; alguns bonitos e vistosos, como se pertencessem a sábias árvores centenárias, porém outros eram tristes e doentios como escarpas de penhascos úmidos e obscuros. Ele não via a origem desses galhos que forneciam o apoio de sua morada, mas sabia que eram firmes, pois há muito se encontrava ali, cumprindo sua função de guardião.